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    Crítica: Silêncio põe homem a nu em longa de argentino Carlos Sorín

    SYLVIA COLOMBO
    DE SÃO PAULO

    28/08/2014 02h15

    Nos filmes dirigidos pelo argentino Carlos Sorín, 70, o protagonista costuma ser a Patagônia.

    Não por conta da beleza das paisagens gélidas e do ruído do vento constante, ambos presentes em suas histórias. Mas por colocar o foco no tipo de relações humanas e afetivas que a região, pouco povoada e ao sul do país, evoca em seus habitantes.

    Em "Filha Distante", filme de 2012 que chega agora ao circuito comercial brasileiro, o diretor revisita o cenário já explorado em "Histórias Mínimas" (2002) e "O Cachorro" (2004).

    Divulgação
    Ana (Victoria Almeida) e o pai, Marco (Alejandro Awada), em cena de 'Filha Distante'
    Ana (Victoria Almeida) e o pai, Marco (Alejandro Awada), em cena de 'Filha Distante'

    A trama agora é vivida por Marco (Alejandro Awada), um homem maduro que chega de Buenos Aires para tentar resgatar algo vivido em seu passado.

    Para isso, precisa reatar a relação com a filha, Ana (Victoria Almeida), que se afastou dele e foi viver num pequeno povoado com o marido e o filho, ainda bebê.

    Por alguma razão, que não descobriremos, Ana guarda imensa mágoa do pai.

    RELAÇÕES

    Sorín parece dirigir sua câmera com a intenção de mostrar que, nesse ambiente inóspito, em que há menos pessoas e a natureza é tão imponente, e às vezes ameaçadora, as relações ganham outro sentido e são moldadas pela solidariedade e pela ideia de que é preciso solidificar os afetos para enfrentar a adversidade.

    Nenhum encontro é desperdiçado. Um diálogo num restaurante de beira de estrada ou numa lojinha de brinquedos pode conter uma reflexão de grandes dimensões sobre a essência das relações ou sobre a finitude da vida.

    Assim são também os encontros entre pessoas de diferentes idades ou contextos sociais.

    É como se Sorín quisesse educar-nos para a necessidade de dar o devido valor a esses mesmos diálogos quando eles acontecem nas grandes cidades.

    Nesse sentido, vai de encontro à tradição recente do cinema argentino, muito centrada em discussões verborrágicas e espirituosas que ocorrem em espaços pequenos e reforçam as neuroses dos relacionamentos de classe média.

    No cinema de Sorín, dá-se o contrário. O silêncio e a natureza põem o homem a nu diante de seus sentimentos. Nem todos aguentam.

    FILHA DISTANTE
    (Días de Pesca)
    DIREÇÃO Carlos Sorín
    PRODUÇÃO Argentina, 2012
    ONDE Caixa Belas Artes
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos
    AVALIAÇÃO ótimo

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