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    A leitura dá a possibilidade de viver outra vida, diz blogueira Bruna Vieira

    NATÁLIA PORTINARI
    DA EDITORIA DE TREINAMENTO

    29/08/2014 02h47

    Bruna Vieira, 20, blogueira e colunista da "Capricho", é uma das autoras que foi surpreendida por uma multidão de fãs na Bienal do Livro neste domingo (24).

    No lançamento de seu quarto livro, "De Volta aos Sonhos", autografou quase 700 exemplares e ainda assim não chegou perto de acabar com a fila que se formava ao redor dela. A explicação de seu sucesso, para ela, é simples: na adolescência, a leitura dá a possibilidade de viver outra vida, ajudando as leitoras a tomarem decisões em um momento de instabilidade.

    Bruna nasceu em uma pequena cidade de Minas Gerais chamada Leopoldina. Com 14 anos, criou o "Depois dos Quinze" (depoisdosquinze.com), no qual rapidamente ganhou seguidoras interessadas em suas histórias e confissões. O seu sucesso financeiro e de público a trouxe para São Paulo aos 17 anos, onde mora até hoje.

    Atualmente, seu blog atinge mais de 60 mil acessos diários. Fala de moda, comida, viagens e literatura, além de dar conselhos para suas leitoras, muitas das quais acompanham a trajetória de Bruna desde o começo do blog.

    *

    Folha - Como foi a ideia de fazer o blog e como ele começou?
    Bruna Vieira - Eu comecei a escrever quando eu morava no interior [Leopoldina - MG].

    Ainda estava no ensino médio e era bastante tímida na escola, não tinha muitos amigos. Então sempre fiquei muito na internet. Criei o blog para desabafar, porque estava passando por uma desilusão amorosa, comum nessa época da vida.

    Eu comecei a escrever para me sentir melhor e fui percebendo que as pessoas que comentavam passavam pela mesma coisa que eu, então fui fazendo amigos.

    No começo era um diário virtual, que eu acho que é o conceito de blog de raiz, como era mais antigamente.

    Daquele tempo para cá, com as redes sociais, o que você acha que mudou no jeito que as pessoas fazem blogs, especialmente para esse público?
    Acho que hoje virou uma mídia. Então a gente tem clientes. E os blogs não são mais tão pessoais quanto eram antigamente. O público aumentou também.

    O "Depois dos Quinze" foi mudando um pouco o foco. Antes o foco era minha vida e as coisas que eu pensava. Agora tem uma equipe de colaboradores, porque é realmente um site com conteúdos diferentes, tem culinária, música, moda, beleza.

    Claro que tem uma linha editorial, que a gente segue com todos os colaboradores, mas a ideia é que seja um portal mesmo, onde meninas entram e encontram coisas que elas vão usar na vida delas.

    Qual a relação do público que lê o seu blog, que é adolescente, com a literatura?
    No blog, a gente fala de vários assuntos, e um deles é a literatura. Eu tento sempre pegar livros novos. Eu recebo bastantes livros lá em casa, as editoras mandam, e agora eu tenho um contato mais próximo com a Autêntica, que é a minha editora.

    Sempre que eu leio um livro legal, eu recomendo no blog, e os colaboradores também fazem posts para lançamentos literários. Então eles pesquisam quais livros estão sendo lançados e têm a ver com o meu público, e a gente divulga. Eu acho legal, porque às vezes as pessoas falam "ai, minha filha fica muito na internet, não lê".

    Então a gente está levando ideias legais para as meninas, títulos legais, que elas se identificam. O meu público é adolescente, a maioria é de 15 a 20 anos. Então acho que é um primeiro passo pro adolescente criar amor pela literatura. Porque na escola, às vezes, o professor exige um livro clássico, e aí ele não consegue se identificar com a história. Eu acho muito importante a literatura juvenil, e a gente tem muitos autores nacionais agora, como a Paula Pimenta.

    Você acha que existe uma dificuldade maior dos adolescentes hoje em ter interesse pela leitura, com as mídias sociais?
    Eu acho que hoje o adolescente fica muito tempo on-line, mas querendo ou não, a pessoa está lendo o dia inteiro. Ela está ali no Facebook lendo coisas o dia inteiro. Então no blog a gente sempre tenta mostrar a importância de ler livros, que às vezes você conhece um país por causa daquele livro, e você conhece mais as pessoas.

    Eu acho que a internet ajuda, ajuda porque ela dá opções pra menina. Existem muitos blogs literários, então ela tem um leque de opções, tem as sinopses e a opinião daquela blogueira que ela gosta. Ela pensa: "Se a menina gostou desse livro, eu vou gostar também, porque eu tenho a mesma opinião que ela".

    Que imagem você acha que passa para as suas leitoras?
    Eu acho que muitas leitoras cresceram junto comigo, as leitoras que têm a mesma idade que eu. Acho isso muito legal por causa da minha história. Meus pais são do interior, eu fui pra São Paulo e fui conquistando as coisas aos pouquinhos, veio o primeiro livro, aí o blog cresceu, veio o convite para escrever na revista. Eu acho que isso acaba inspirando. A palavra é essa, inspiração. Acho que elas me veem como uma referência, mas uma referência próxima, porque eu tenho só 20 anos e eu me formei agora no ensino médio, faz pouco tempo. Isso que é o legal do blog, porque a menina consegue se identificar com quem está escrevendo e ela tem esse contato direto, então ela pode deixar um comentário.

    O que te levou a escrever os seus livros?
    Eu publiquei o primeiro livro pela Gutenberg, que faz parte do Grupo Autêntica, e o convite veio graças a uma indicação de uma professora minha. Muita gente acha que os livros só foram publicados por conta do blog, e não. Quem me indicou pra editora foi uma professora que tinha um amiga que trabalha nessa editora e falou: "Olha, eu tenho uma aluna que escreve muito bem". E aí eu fui numa reunião no ano seguinte, já tinha terminado a escola, já estava morando em São Paulo. Eu conversei com a diretora da editora e ela adorou minha história, aí ela conheceu o blog, gostou do blog. Mas o convite veio mesmo porque eles gostaram do meu texto e porque, claro, eu tinha onde divulgar esse texto, já tinha um público formado. Então essa é sempre a dica que eu dou pras leitoras que sonham em trabalhar com isso também: crie um canal onde você tenha um público e conquiste esse público. A internet é um espaço muito democrático onde você consegue, se você contar uma história, mesmo que seja a mesma história que todo mundo está contando, de um jeito diferente, você consegue cativar as pessoas.

    Qual a diferença principal entra a literatura voltada para o público adolescente e a literatura em geral?
    Eu acho que é a identificação. A gente escreve pensando que, quando a menina vai ler, vai se identificar com a história e vai ficar curiosa para saber a continuação e acompanhar as aventuras da personagem. Então eu tento sempre colocar nas minhas histórias elementos que estão presentes na vida das meninas. Por exemplo, no meu novo livro, a personagem viaja no tempo. Ela tem 30 anos, mas ela volta pros 15. Então ela está passando por coisas que as minhas leitoras estão passando, que é escolher o curso da faculdade, namorar o melhor amigo ou não, mudar pra cidade grande. Porque a adolescência é uma fase que você tem que tomar muitas decisões, é tudo muito intenso. As coisas vão acontecendo do nada, você não tem outra experiência pra se basear. Então esses livros ajudam a menina a tomar essas escolhas, decidir o que vão fazer da vida delas. Acho que essa é a diferença, a menina se identifica com a história. Mas a leitura no geral é isso. Dá à leitora a possibilidade de se imaginar como outra pessoa, viver outra vida. E na adolescência isso é importante porque a menina não tem muita experiência de vida, ela está começando a fase adulta em que tudo é mais definitivo.

    NATÁLIA PORTINARI é trainee da 58ª turma do Programa de Treinamento, que tem patrocínio da Ambev, da Philip Morris Brasil e da Odebrecht.

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