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    Qual foi a grande banda do britpop, Blur ou Oasis?

    30/08/2014 02h00

    Qual foi a grande banda do britpop: Blur ou Oasis?

    O crítico André Barcinski e o editor-assistente da "Ilustrada" Daigo Oliva defendem suas posições.

    Reprodução
    A capa da revista semanal 'NME' com a disputa entre Blur e Oasis, em 1995
    A capa da revista semanal 'NME' com a disputa entre Blur e Oasis, em 1995

    ANDRÉ BARCINSKI: EU SOU BLUR

    Se eu tivesse de escolher na briguinha Blur vs. Oasis, ficaria com o primeiro, que sempre me pareceu mais inventivo e eclético do que o pastiche de Beatles dos Gallagher.

    Acho "Parklife", com influências de disco, new wave, pop e Kinks, muito melhor e mais ousado do que "Definitely Maybe".

    O Damon Albarn pós-Blur criou o Gorillaz, trabalhou com Brian Eno e lançou um disco solo surpreendente, o que fizeram os Gallagher?

    Beady Eye? High Flying Birds? Faz-me rir.

    DAIGO OLIVA: EU SOU OASIS

    Briga entre irmãos, cigarros e álcool, uma pororoca de frases de efeito e canções com muita, mas muita guitarra.

    Para um adolescente nos anos 1990, não havia pacote que pudesse soar melhor. A música era incrível, mas a atitude contava muito mais.

    Oasis tinha a genialidade de um compositor talentoso e provocador, como a época pedia. E por mais que existisse uma legião contra, Noel Gallagher estava sempre certo.

    Ele desafiou a lógica ao dizer que Oasis era melhor que Beatles, brigou com a lógica ao fazer com que a banda emplacasse nos EUA e confirmou a lógica de irmão mais velho ao provar que era ele quem escrevia tudo, decidia tudo.

    Porém, a postura arrogante de Liam também contribuiu para o carisma às avessas da banda. As mãos para trás, o gogó em riste e o pandeiro desnecessário ao cantar marcou a estética do britpop.

    No mar de alegria de ácidos e ecstasy pós-Happy Mondays ou brigando contra o hino de balada "Boys and Girls", do Blur, os dois primeiros discos da banda seguiram a cartilha básica do rock de maneira magistral: refrões grudentos, tanto para baladas —"Wonderwall" virou hit universal, que até meu pai entoa, "Whatever" foi música de comercial da Coca-Cola e "Live Forever" marcou namoros apaixonados por aí—, como para sons mais soturnos.

    "Slide Away", "Shakermaker" e "Columbia", faixas de "Definitely Maybe" (1994), eram o documento de que eles sabiam fazer rock de qualquer maneira, ainda mais no modelo mais tradicional.

    O ser humano que não se empolga ao ouvir os primeiros acordes de "Roll With It" ou não se arrepia com a bateria e a base de guitarra de "Supersonic" tem algum trauma com os anos 1990. É a única forma de entender.

    Até o terceiro álbum, "Be Here Now", o grupo foi perfeito. Mas, depois de tantas desavenças, mudanças na formação —Noel deixou que músicos de verdade entrassem no grupo e roubassem um pouco de seu protagonismo, um erro— e tentativas de experimentações musicais, o Oasis entrou em baixa.

    Não que tenham ficado ruins. Ficaram mais calmos, envelheceram, e com a testosterona da juventude, foi embora também o beabá dos primeiros anos. Ao tentar inventar músicas um pouco mais complexas, piorou. Sou Oasis, mas só quando era modinha.

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