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    Crítica: Filme culinário bate o recorde mundial de metáforas banais

    RICARDO CALIL
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    01/09/2014 03h10

    "Comida é memória." "Há cinco molhos principais. Você deve encontrá-los em seu coração. Depois, levá-los para suas panelas. Esse é o segredo." "Neste restaurante nós não servimos um casamento velho, cansado, e sim um caso passional."

    Filmes sobre comida costumam ser particularmente suscetíveis a clichês baratos e metáforas banais, em geral envolvendo temperos e sexo, pontos de cozimento e a vida, e assim por diante.

    Mas, nesse quesito, a primeira hora de "A 100 Passos de um Sonho" -de onde saem as citações acima- deve ter batido um novo recorde mundial.

    Francois Duhamel/Divulgação
    A atriz Helen Mirren, que vive Madame Mallory em "A 100 Passos de um Sonho"
    A atriz Helen Mirren, que vive Madame Mallory em "A 100 Passos de um Sonho"

    Baseado no best-seller de Richard C. Morais, o filme é dirigido pelo sueco Lasse Hallström, que possivelmente detinha o recorde anterior por "Chocolate" (2000) e que se especializou nesse estilo de comédia dramática sensível e inofensiva.

    Na trama, uma família indiana se muda para uma pequena cidade francesa depois de uma tragédia em seu país e abre um restaurante comandado pelo jovem e talentoso Hassan (Manish Dayal).

    O problema é que logo em frente, a cem passos de distância, está instalado um tradicional restaurante francês, comandado pela esnobe e competitiva madame Mallory (Helen Mirren).

    Do embate entre indianos e franceses, surgem os momentos de humor, conflito, romance e conciliação do filme -que se equilibra na contradição de combater preconceitos ao mesmo tempo em que reforça estereótipos.

    Mas o paradoxo central de "A 100 Passos de um Sonho" é outro: fazer o elogio de uma comida sofisticada e surpreendente quando nos oferecem um prato convencional e previsível.

    Como tantos outros filmes culinários, eles vendem uma experiência gourmet e entregam "comfort food".

    A favor de Hallström, é preciso dizer que na segunda hora do filme os personagens começam a parecer seres humanos, e não porta-vozes de lições de vida, e a muito britânica Mirren ganha espaço pra brilhar como a muito francesa Mallory.

    Ainda assim, o melhor filme recente sobre comida, um dos poucos a driblar os clichês desse subgênero, continua sendo um desenho animado sobre um roedor chamado "Ratatouille" (2007).

    A 100 PASSOS DE UM SONHO
    (THE HUNDRED-FOOT JOURNEY)
    DIREÇÃO Lasse Hallström
    PRODUÇÃO EUA, 2014
    ONDE Cidade Jardim Cinemark, Espaço Itaú Pompeia, Jardim Sul UCI e circuito
    CLASSIFICAÇÃO 10 anos
    AVALIAÇÃO regular

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