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    Filme sobre casal gay sofre com censura nos EUA

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES (EUA)

    01/09/2014 03h00

    Mesmo morando há quase 20 anos nos Estados Unidos, o roteirista brasileiro Mauricio Zacharias ("O Céu de Suely", "Madame Satã") poucas vezes se sentiu tão estrangeiro quanto no lançamento de seu novo longa-metragem, "O Amor É Estranho", no dia 22 de agosto.

    O filme retrata um casal homossexual, formado por Alfred Molina e John Lithgow, que resolve se casar oficialmente, após 39 anos juntos. Eles enfrentam, porém, problemas financeiros depois que um deles é demitido do emprego de professor em uma escola católica.

    O drama sensível e sem cenas de nudez ou sexo ganhou nos Estados Unidos a classificação indicativa "R", que só permite a entrada de menores de 17 anos acompanhados dos pais. A censura despertou a ira de alguns críticos.

    Divulgação
    Alfred Molina (esq.) e John Lithgow em cena de "O Amor É Estranho"
    Alfred Molina (esq.) e John Lithgow em cena de "O Amor É Estranho"

    "Não importa o quão discreto e protegido em suas descrições, 'O Amor é Estranho' aparentemente é muito gay para o PG-13 [inapropriado para menores de 13 anos]", escreveu Michael Phillips, do jornal "Chicago Tribune".

    O inglês "The Guardian" foi mais direto: "O amor é estranho, mas violência e tortura não têm problema".

    "Acho a maneira como julgam filmes aqui nos Estados Unidos muito estranha, quase alienígena", diz Zacharias à Folha. "É um absurdo ver um filme sobre amor ser comparado a obras violentas como 'Sin City'."

    De acordo com a MPAA, órgão que regulamenta o setor cinematográfico nos EUA, "O Amor É Estranho" ganhou tal classificação pela linguagem e não pelo tema homossexual. "Oficialmente, recebemos a censura por causa dos palavrões. Contamos e achamos seis", relata Zacharias.

    Ironicamente, o brasileiro e o diretor e corroteirista do filme, Ira Sachs, pensaram em incluir uma cena de sexo entre os dois protagonistas, mas pensaram que seria "forçar a barra".

    "Houve a discussão quando começamos a trabalhar no longa, mas a verdade é que é uma história sobre um casal junto há 40 anos, dormindo nas casas dos outros. O que eles sentem é a falta do corpo, da presença, do abraço, e não do sexo", explica.

    "Queríamos mostrar o amor em diferentes estágios e focar o maduro, que pouco se vê no cinema."

    CRÍTICAS POSITIVAS

    O filme conquistou a crítica. Lithgow está cotado para o Oscar e a obra só perde na lista do site "Rotten Tomatoes", que reúne a crítica de todo o país, para "Boyhood", a sensação indie do ano.

    Apesar disso, não foi tão fácil convencer os produtores a bancar o minúsculo orçamento de US$ 1,1 milhão (cerca de R$ 2,46 milhões).

    "É um filme que tem um casal gay como personagens centrais. Ainda há uma relutância grande em Hollywood com o tema", diz Zacharias.

    "Encontramos 28 indivíduos que ajudaram a financiar, a maioria lésbicas aposentadas, levadas por uma produtora de musicais da Broadway. E a produtora brasileira RT Features entrou no final do processo."

    "O Amor É Estranho", ainda sem previsão de estreia no Brasil, rendeu US$ 117 mil (R$ 261,67 mil) em 26 salas em três dias nos EUA. Com a repercussão, o estúdio pensa em expandir o drama para mais cinemas. As vendas para o exterior já garantiram o lucro para quem investiu.

    "Todos já receberam o dinheiro de volta e mal entramos em cartaz", diz Zacharias, que já trabalha em um novo filme com Sachs, sobre duas famílias lidando com a amizade de dois garotos, um deles "afeminado."

    "É o fim da trilogia", iniciada em 2012 com o drama gay "Deixe a Luz Acesa".

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