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    Cachorro Grande renasce no eletrônico

    THALES DE MENEZES
    EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

    01/09/2014 02h36

    O encontro entre o Kraftwerk e David Gilmour. É assim que o guitarrista Marcelo Gross define o som do novo disco de sua banda, Cachorro Grande.

    A definição foi disparada logo nos primeiros minutos da audição do sétimo álbum da banda gaúcha radicada há dez anos em São Paulo.

    Surpreende associar o grupo alemão patriarca da música eletrônica e o guitarrista do Pink Floyd a uma banda brasileira conhecida por tocar um rock retrô, como atestam os seis álbuns anteriores.

    Karime Xavier / Folhapress
    Gabriel Azambuja, Rodolfo Krieger, Beto Bruno e Marcelo Gross em estúdio em São Paulo
    Gabriel Azambuja, Rodolfo Krieger, Beto Bruno e Marcelo Gross em estúdio em São Paulo

    "A gente queria fazer algo diferente, mas não imaginava que ficaria tão diferente", diz à Folha o vocalista Beto Bruno, numa conversa após mais de uma hora ouvindo as faixas longas e viajandonas do disco "Costa do Marfim", que chega às lojas no dia 15.

    Ele conta que o grupo resolveu inaugurar uma nova fase depois do DVD ao vivo gravado no Circo Voador (Rio) e lançado no ano passado. "O DVD foi como uma coletânea da carreira. Às vezes parecia que a gente estava fazendo cover de nós mesmos."

    A transformação foi radical. "Costa do Marfim" tem músicas de até 14 minutos! Eles sabem que os fãs vão estranhar. "Mas que graça tem você tocar numa banda por 15 anos se não fizer discos diferentes?", pergunta Gross.

    As mudanças podem ter sido mais fáceis pela presença do produtor Edu K, líder da também gaúcha De Falla, que despontou nos anos 1980.

    Segundo os músicos, foi a primeira vez em que eles entregaram a produção totalmente a outra pessoa. E eles definem Edu K como um sexto integrante da Cachorro Grande no processo de gravação. O tecladista Pedro Pelotas estava ausente na audição.

    Mesmo com as demos das músicas entregues ao produtor com cara de composições terminadas, houve muita experimentação. "Às vezes eu entrava no estúdio sem saber o que iria tocar. O Edu mostrava alguma coisa e a gente ia atrás", conta o baterista Gabriel Azambuja.

    Um processo livre assim explica a duração enorme das canções? "A gente deixou que as músicas tivessem um tamanho natural. Por que cortar? Não vai tocar no rádio mesmo, né?", dispara Bruno.

    O repertório vai exigir mudanças no show. As canções antigas, mais curtas e com formato de rock simples e direto, não se encaixam com as novas, longas e delirantes.

    Resolveram então tocar em um set inicial o novo disco, inteiro. Depois, fecham as apresentações com sucessos, como "Sexperienced" e "Você Não Sabe o que Perdeu".

    "É como o Who fazia show quando lançou 'Tommy': primeiro o disco novo, depois a festa com as velharias", afirma Bruno, lembrando que a banda faz muitos shows. "É com eles que a gente paga as contas." Gross resume: "Estamos numa turnê que já dura 15 anos".

    Mesmo "moderna", a Cachorro Grande ainda exibe ligações com clássicos do rock. Quando não lembram diretamente Led Zeppelin ou Pink Floyd, os grooves das novas músicas remetem a bandas mais contemporâneas como Oasis e Kasabian, nomes que também fazem a reciclagem de coisas mais antigas.

    Então, que fique claro: "Costa do Marfim" não é algo revolucionário. É a maneira como a Cachorro Grande resolveu fazer música diferente e boa. Muito boa. É um dos melhores discos do ano.

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