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    Museu Inhotim, em Minas Gerais, entra no roteiro de turismo de massa

    KARLA MONTEIRO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BRUMADINHO (MG)

    07/09/2014 02h41

    Ao sair do pavilhão Psicoativa Tunga, uma das galerias que compõem Inhotim, complexo de museus dedicado à arte contemporânea em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, o taxista Oswaldo da Silva Júnior, 41, suspira: "Chique demais".

    Inhotim abriu ao público em 2005. Em nove anos, deu um salto em diversidade e quantidade de artistas e frequentadores. O número de pavilhões, erguidos em meio à exuberância de um jardim botânico de 110 hectares, para abrigar seu acervo permanente, aumentou de dois para 22.

    O público cresceu cerca de 300%. Em 2008, quando o museu começou a contabilizar os visitantes, foram 121.308 pessoas. Em 2013, 332.280.

    Para o diretor de arte da instituição, o curador Rodrigo Moura, Inhotim "virou destino". Traduzindo: entrou para o roteiro do turismo de massa.

    "O mais legal daqui é a mistura. Isto está no coração da nossa missão: o acesso à cultura precisa ser dividido", defende o diretor.

    "Vamos atrás de associações de baixa renda, de deficientes físicos, de terceira idade. Chamamos o público marginalizado para visitar de graça. Isso foi criando ao longo dos anos uma cultura que agora está estabelecida."

    Rossana Magri/Divulgação
    Visitantes em pavilhão com obras da artista Adriana Varejão
    Visitantes em pavilhão com obras da artista Adriana Varejão

    ESPÉCIES TROPICAIS

    Era uma terça, 26 de agosto, dia da semana em que a entrada é franca. No estacionamento, 16 ônibus de turismo de várias partes do Brasil.

    No restaurante Oiticica, em que a comida é cobrada por peso (às terças, o valor do quilo baixa de 49 para 39 reais), a fila dava voltas. Inhotim tem mais dois restaurantes, um buffet e um à la carte.

    Segurando pratos, as pessoas trocavam experiências enquanto aguardavam.

    O jardim, desenhado à moda de Burle Marx, com uma extensa coleção de espécies tropicais raras, ocupava majestoso o primeiro lugar no ranking de preferências, batendo até mesmo as obras de arte.

    "Gostei mesmo foi do orquidário", diz o contador Adilson Marques, 39, de Belo Horizonte. "É, o jardim, eu nunca vi igual", apoia a dona de casa Maria da Penha, 58 anos, de São Paulo.

    'ADRIANA BELTRÃO'

    Entre as senhoras de um grupo de João Monlevade, interior de Minas, as obras favoritas foram "Adriana Beltrão e o som da moça afogando no mar". Elas se referiam ao pavilhão de Adriana Varejão e à instalação sonora da canadense Janet Cardiff.

    Inhotim nasceu do desejo do empresário Bernardo Paz de criar um museu ao ar livre em sua fazenda para abrigar sua coleção de arte. Em 2004, construiu os dois primeiros pavilhões, para as instalações "Através", de Cildo Meireles, e "True Rouge", de Tunga, enquanto investia também no paisagismo do espaço. Inhotim foi reconhecido como jardim botânico em 2010.

    "Ninguém comprava instalações inteiras. O destino dessas grandes obras era o caixote", comenta Moura.

    "Em 2005, o Bernardo começou a levar a sério a ideia de abrir para o público. A partir daí, fomos discutindo e incrementando a ideia."

    SELFIE

    Inhotim tem hoje um custo estimado de R$ 27 milhões ao ano. Segundo o diretor, o museu é sustentado por um tripé: receita própria (restaurante, loja, bilheteria e licenciamento da marca), patrocínio e aportes individuais de empresários interessados em arte.

    "Cada vez dependemos menos do Bernardo, mas o acervo e construção de pavilhões ainda são com ele", diz.

    Às 16h30, hora de fechar o complexo de museus, o taxista Oswaldo encontrava-se na porta do pavilhão Cosmococas, de Hélio Oiticica. Com sorriso largo, gritou para os companheiros de passeio: "Ainda dá tempo de fazer um selfie".

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