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    Crítica: Soprano tem atuação memorável em 'Salomé'

    SIDNEY MOLINA
    CRÍTICO DA FOLHA

    09/09/2014 02h18

    A peça que inspirou a ópera "Salomé" foi escrita em francês pelo irlandês Oscar Wilde (1854-1900). O compositor Richard Strauss (1864-1949) utilizou diretamente o texto de Wilde em tradução alemã.

    A montagem do Theatro Municipal tem direção da talentosa Livia Sabag. Luz e cenários contornam a música e favorecem a projeção vocal. E a abertura da fenda que, enfim, mostra –na "Dança dos Sete Véus"– os vitrais coloridos do palácio, serve de equilíbrio ao olhar já acostumado à beleza gélida e soturna.

    A famosa dança é sempre um momento cênico decisivo. É o ponto em que o texto cessa e a música cede espaço para a pura visualidade, o "olhar proibido" tantas vezes tematizado na narrativa.

    Sabag utilizou o Balé da Cidade de São Paulo (coreografado por André Mesquita) para, na medida exata, adicionar sentidos aos sons.

    Mas o mais forte de "Salomé" é a música. Strauss concebe materiais sonoros ambíguos para a personagem-título, relações improváveis entre tonalidades distantes.

    Especialista no papel, a soprano alemã Nadja Michael teve atuação memorável na estreia.

    Para Iokanaan (o profeta João Batista, interpretado por Mark Steven Doss) e Herodíades (por Iris Vermillion) o compositor escreve uma música propositalmente plana, mas repleta de sutilezas orquestrais.

    Já para Herodes (interpretado com maestria vocal e teatral pelo tenor Peter Bronder) predominam as frases descendentes, muitas vezes em tons inteiros.

    A Sinfônica Municipal parece renovada. Se o alto nível da performance de sábado (6) se mantiver, é porque ela terá dado, de fato, um salto qualitativo.

    Para isso ocorrer justamente na complexa "Salomé" concorre também a experiência e a paixão do maestro John Neschling por esse repertório.

    Em Strauss a orquestra é protagonista, soa no mesmo plano dos cantores; nas fronteiras da tonalidade, a obra está a um passo do expressionismo de Arnold Schoenberg (1874-1951) e Alban Berg (1885-1935).

    SALOMÉ
    QUANDO ter. (9 e 16), qui. (11 e 18) e sáb. (20), às 20h; dom (14), às 18h
    ONDE Theatro Municipal de São Paulo, praça Ramos de Azevedo s/n, tel. (11) 3053-2090
    QUANTO de R$ 40 a R$ 100 (esgotados)
    CLASSIFICAÇÃO 10 anos
    AVALIAÇÃO ótimo

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