• Ilustrada

    Saturday, 15-Jun-2024 19:30:26 -03

    Titã Sérgio Britto vira apresentador de TV

    GISLAINE GUTIERRE
    DE SÃO PAULO

    10/09/2014 02h11

    Com voz grave e algo tímido, Almino Affonso, ex-ministro de João Goulart, entoa "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores", de Geraldo Vandré, diante das câmeras. Ele nem queria cantar, mas não resistiu: ao violão, e também cantando, estava seu filho, o Titã Sérgio Britto.

    A música era uma forma de lembrar os oito anos que Britto e sua família passaram no exílio no Chile, durante a ditadura militar no Brasil. A cena é também parte de "Exílio e Canções", série em sete episódios que o Titã comanda a partir de quarta (10), na TV Brasil.

    A cada edição, Britto irá receber ex-exilados e com eles vai compartilhar canções que marcaram essa fase.

    Davi Ribeiro/Folhapress
    Sérgio Britto no prédio onde funciona a produtora do programa, em São Paulo
    Sérgio Britto no prédio onde funciona a produtora do programa, em São Paulo

    Entre os convidados estão o diretor de teatro Zé Celso Martinez Correa, a escritora Ana Maria Machado e Ciro Barcelos, ex-integrante do grupo Dzi Croquettes.

    Britto, 54, era criança quando seu pai teve direitos políticos cassados. Era 1964, ano do golpe militar, Affonso teve de deixar o país às pressas. "Eu senti a ausência e a insegurança. Acho que isso foi o que mais me marcou", diz Britto.

    Foram quase dois anos sem ver o pai, até a família se mudar para Santiago, em 1966. A casa deles era frequentada por militantes e exilados. "Os casos de tortura que contavam eram o que mais me chocava. Eram histórias terríveis", diz o cantor.

    A política era uma constante. O medo também. Britto conta que, com seu irmão, ia de bicicleta até um rio para jogar lá livros sobre política. "Também queimávamos e jogávamos livros no vaso sanitário. Era estranho", diz.

    Britto também foi às ruas em manifestações: "Lembro da sensação do gás lacrimogêneo, da gente com camiseta molhada na cara, porque ardia", diz.

    Como exilado, sempre se sentiu um estrangeiro. Até quando voltou para o Brasil: "Aqui eu era o chileno", ri.

    Britto acredita que ainda hoje é importante voltar ao tema da ditadura. "As pessoas que não viveram isso, não têm ideia do que foi."

    Os convidados ajudam a recompor esse painel. Mas a aposta maior é a música.

    "A Ana Maria Machado lembra de como foi emocionante ouvir Sabiá' no exílio, cantado por Nara Leão, que era sua amiga", diz o diretor do programa, Otávio Juliano.

    Após intervenções de Britto ao violão, ao final uma banda, montada para o programa, toca uma música inteira.

    NA TV
    Exílios e Canções
    Estreia do programa
    QUANDO nesta quarta (10), às 23h, na TV Brasil
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024