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    Filho de Sebastião Salgado narra a dor e a delícia de criar com Wim Wenders

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    18/09/2014 02h02

    Para realizar "O Sal da Terra", seu documentário sobre o pai, o fotógrafo Sebastião Salgado, Juliano Ribeiro Salgado recrutou o cineasta Wim Wenders.

    Um dos mestres do preto e branco no cinema, Wenders conheceu a obra de Sebastião há 25 anos. Com afinidades como o interesse pelo futebol, o diretor alemão e o fotógrafo brasileiro ficaram amigos há seis anos.

    "Eu já havia feito viagens com meu pai quando Wim se aproximou falando sobre a ideia de um filme sobre ele. Ele também não sabia como seria o formato, mas eu queria ter outra pessoa no longa, para não ficar uma obra autoindulgente", lembra Juliano. "Não queríamos um filme tradicional sobre um fotógrafo clicando a câmera. É chato."

    Em meio a idas e vindas entre Paris e Berlim, Juliano e Wenders acertaram o tom dramatúrgico e combinaram de fazer "O Sal da Terra" juntos.

    Usariam os registros de Juliano pelas viagens e até de quando era menor, mas Wenders acompanharia Sebastião pelo norte da Sibéria e em uma viagem de balões pela Namíbia –à qual não foi, por ter ficado doente. "Isso cortou meu coração", conta Wenders.

    Juliano continuou a registrar as andanças do pai para o livro "Genesis", enquanto Wenders se encarregava de entrevistar Sebastião para que ele contasse histórias detalhadas por trás das fotos que aparecem no documentário.

    "Inventei um teleprompter de imagens. Ele nunca via a câmera, apenas as fotos", relata Wenders. "A ideia poderia ter sido horrível. Por sorte, Sebastião é um contador de histórias e possui um carisma impressionante."

    As fotos/histórias foram escolhidas por Juliano que, como faz questão de lembrar, cresceu "ouvindo todas elas e sabia qual foto traria tal história". Ter o filho do fotógrafo como guia facilitou. Mas não foi fácil chegar aos 90 minutos finais de "O Sal da Terra".

    Juliano e Wenders passaram cerca de um ano e meio trancafiados na sala de edição, em Berlim. "Claro que existiram rusgas", diz Juliano. "Rolou um pau em relação a tudo... O que íamos falar, o que tirar, qual continente e quais microssegundos limar. No final, foi um grande trabalho, sincero e bonito."

    AMOR

    A longa montagem do documentário rendeu um novo amor na capital alemã, a brasileira Ivi Roberg, conhecida por curtas experimentais.

    "Em dois dias estávamos morando juntos", revela Juliano, que está escrevendo com Ivi sua primeira ficção, um thriller distópico para filmar em São Paulo, onde deve morar por três meses a partir de julho.

    "É um filme sobre mobilidade social em São Paulo. Quero transformar a cidade em um Blade Runner', mas sem mudar a maneira de como a conhecemos."

    Sempre que pode, Juliano passa temporadas em Vitória, no Espírito Santo, ou no interior de Minas Gerais, onde sua família possui casas –uma delas na área do Instituto Terra, que reflorestou a região onde Sebastião Salgado cresceu. "Eu me sinto brasileiro, apesar de ter todas as referências da França, onde nasci e cresci. Então de vez em quando as pessoas citam um artista ou começam a cantar e fico como um peixe fora d'água", brinca.

    Essa mistura franco-brasileira e alemã rendeu bons frutos em Cannes, onde "O Sal da Terra" foi ovacionado. "Até Wim Wenders se emocionou. Estávamos muito ansiosos. Vimos cinco anos de trabalho culminarem naqueles aplausos, que foram mais importantes do que o prêmio especial do júri", diz Juliano.

    Como se o peso do mundo tivesse saído de seus ombros, o cineasta conta que "O Sal da Terra" valeu como "uma análise" e que hoje o relacionamento com o pai, outrora distante, é muito mais próximo e diversificado.

    "Com esse filme, aprendemos a conversar sobre outras coisas fora trabalho", diz.

    O SAL DA TERRA
    (THE SALT OF THE EARTH)
    DIREÇÃO Juliano Ribeiro Salgado e Wim Wenders
    PRODUÇÃO Brasil/Itália/França, 2014
    ONDE 27/9, às 14h e às 21h30, no Estação Botafogo; 29/9, às 19h20, no Estação Ipanema; 30/9, às 22h15, no Cinebolis Lagoon 6, no Rio
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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