A criação de "Jardim Europa", primeiro longa do diretor teatral Mauro Baptista Vedia, teve o teatro como fonte de inspiração. O filme, rodado em 2004, que entra em circuito comercial na cidade nesta quinta-feira (25) nasceu após dez meses de ensaio e foi concebido sem roteiro predefinido.

O encenador de origem uruguaia, notório por misturar no palco reflexão e entretenimento em comédias ácidas inglesas como "A Festa de Abigaiu", de Mike Leigh, e "Jantar," de Moira Buffini, desejava fazer um "filme de ator".

"Busco um cinema que tenha relação mais democrática com o intérprete", diz, citando John Cassavetes e Domingos Oliveira como referência.

"Jardim Europa" conta a história de uma família paulista decadente. Foi criado com amplo espaço para improviso. O roteiro foi desenvolvido pelo próprio elenco, formado por atores essencialmente de teatro, entre eles Ester Laccava, Marcos Cesana e Laerte Mello –além de um não ator, Horácio Penteado.

A ideia, segundo Vedia, foi extrair o máximo de veracidade dos diálogos e das relações entre os protagonistas. Fazer com que cada um interiorizasse o personagem e desenvolvesse suas histórias a partir de improvisações com os demais.

"A dramaturgia foi sendo modificada de acordo com o material trazido por cada ator. Forma nasceu junto com conteúdo. Isso deu frescor ao filme", afirma Vedia.

Como "Jantar", espetáculo de destaque da cena teatral paulista este ano previsto para reestrear em novembro no MuBE, "Jardim Europa" lança um olhar crítico sobre a elite da atualidade.

O filme se propõe a retratar famílias decadentes de São Paulo. Se o enfoque do texto de Buffini é o consumismo exacerbado da classe alta inglesa, o de Vedia é a improdutividade.

"Percebi uma certa irresponsabilidade na elite paulistana. Minha crítica é a falta de ligação da classe com o trabalho, uma maneira de achar que dinheiro cai do céu", afirma o diretor.

JARDIM EUROPA
DIREÇÃO Mauro Baptista Vedia
PRODUÇÃO Brasil, 2013
ONDE Cine Caixa Belas Artes, a partir desta quinta (25)