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    Universo familiar domina filmes brasileiros em competição no Rio

    GUILHERME GENESTRETI
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    25/09/2014 02h12

    É uma seleção, digamos, familiar. Entre os dez longas brasileiros que disputam a mostra competitiva do Festival do Rio deste ano, ao menos oito giram em torno do universo da família.

    A mostra carioca, uma das vitrines mais importantes do cinema nacional, começa de fato nesta quinta (25), após a exibição, ontem (24), do filme de abertura: "O Sal da Terra", de Juliano Ribeiro Salgado e Wim Wenders.

    "O cinema que se faz hoje no país é mais urbano. A questão de como as famílias se estruturam e se desestruturam nesse meio aparece naturalmente", diz Ilda Santiago, que dirige o festival.

    "No passado, a seleção era mais diversa. Neste ano, houve uma sintonia de tema que conversa com a tendência de se discutir o país de hoje."

    O reencontro com um pai distante é o tema de "O Último Cine Drive-In", do brasiliense Iberê Carvalho. "O drive-in é a metáfora perfeita para tratar do reencontro familiar com um pai distante: é um espaço anacrônico e tem essa questão de voltar no tempo", diz o diretor.

    Um pai que tenta reatar relações com a filha egressa de uma clínica de reabilitação é o cerne da trama de "Prometo um Dia Deixar Essa Cidade", de Daniel Aragão.

    Em "Casa Grande", do estreante carioca Fellipe Barbosa, a família é o núcleo do drama social: Jean é um adolescente abastado da Barra da Tijuca que vê tudo ao seu redor ruir enquanto seu pai esconde que está falido.

    Já em "Sangue Azul", do pernambucano Lírio Ferreira, família é tabu. No filme, Daniel de Oliveira vive uma atração pela irmã, que mora em Fernando de Noronha. "Esse amor impossível é característico da vida nas ilhas, onde as pessoas se relacionam porque não têm para onde ir", afirma Ferreira.

    Em "Obra", de Gregorio Graziosi, um arquiteto (Irandhir Santos) revolve o passado da família ao descobrir um cemitério clandestino no terreno que já foi de seus ancestrais. "Ausência", de Chico Teixeira, traz um jovem que assume o papel de homem da casa, tendo de cuidar da mãe e do irmão mais novo.

    "A corrupção se enraíza pela família", diz o veterano Murilo Salles, que exibe no Rio seu filme político "O Fim e os Meios", sobre dois casais que convivem em Brasília durante o período de campanha eleitoral de um senador.

    Também de teor político, "O Outro Lado do Paraíso", de André Ristum, mostra como o golpe militar interfere na vida de uma família simples em Brasília. "É um filme visto pelo olhar do filho, sobre como a ditadura afetou até quem não tinha envolvimento profundo com ela."

    CENÁRIO INTERNACIONAL

    No total, o festival exibe outras 350 produções, nacionais e estrangeiras, incluindo uma mostra de filmes mexicanos.

    Longa que gerou frisson nas mostras internacionais, "Boyhood", de Richard Linklater, é um dos destaques: rodado ao longo de 11 anos, acompanha o crescimento de um adolescente. Outros títulos de peso são "Garota Exemplar", de David Fincher, "Mapa para as Estrelas", de David Cronenberg, e "Mommy", do canadense Xavier Dolan, vencedor do júri em Cannes.

    Nenhum dos quatro diretores estará presente. "O que é prioritário são os filmes", diz Santiago, diretora do evento. "O foco é que os diretores possam discutir com o público, que é o que torna um festival uma experiência única. O grande nome é bacana, mas às vezes tem menos contato com quem vem assistir."

    A programação completa está em festivaldorio.com.br.

    *

    OUTROS UNIVERSOS
    Temas de filmes do festival

    Violência policial

    Ambos documentários inéditos, "O Estopim" trata da mobilização da favela da Rocinha após o sumiço do pedreiro Amarildo, em 2013, e "À Queima Roupa" investiga crimes cometidos pela polícia carioca nos últimos 20 anos

    Mundo gay

    O festival aboliu a sessão dedicada ao tema, mas espalhou cerca de 40 filmes sobre o assunto nas mostras: há desde a ficção sul-coreana "Voo Noturno" até o documentário brasileiro "Favela Gay", de Rodrigo Felha

    Música

    A mostra traz cinebiografias como "James Brown", documentários como "My Name Is Now, Elza Soares", além de pelo menos três filmes dedicados ao gênero 100% brasileiro: "Guardiões do Samba", "O Samba" e "Samba & Jazz"

    Futebol

    Três filmes abordam o esporte: os documentários brasileiros "Campo de Jogo" e "Ídolo" e a produção coletiva internacional "Short Plays", com episódios feitos por Vincent Gallo e o tailandês Apichatpong Weerasethakul

    Religião e tradição

    Tabus, famílias autoritárias e fanatismo religioso aparecem em filmes como o franco-germânico "Stations of the Cross", "O Cordeiro", e "Ida", ficção que mergulha no catolicismo polonês

    Mídia

    A história de um jornal irreverente é contada no documentário brasileiro "Meia Hora e as Manchetes que Viram Manchete"; já a ficção "The Face of an Angel" narra um assassinato verídico que foi festa dos tabloides

    Política

    A tônica engajada permeia longas como "Jimmy's Hall", de Ken Loach, sobre um camponês irlandês progressista, "Maïdan", sobre as manifestações na Ucrânia, e o brasileiro "A Revolução do Ano", de Diogo Faggiano, que aborda a Primavera Árabe

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