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    Patrulha ameaça ficção, afirma Falabella

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    28/09/2014 02h45

    O movimento contra "Sexo e as Negas", série transmitida às terças-feiras pela Rede Globo, não dá sinal de refluxo, passados os dois primeiros episódios.

    O site Blogueiras Negras, que centralizou a reação antes mesmo da estreia, passou a postar uma série de debates regulares sobre os episódios, aos sábados, intitulada "#AsNegaReal". No primeiro vídeo, descreveu o programa como "muito pior do que a gente pensava".

    Paralelamente, atos públicos vêm sendo convocados, no Rio e em São Paulo, pela campanha intitulada Boicote Nacional ao Programa "Sexo e as Negas".

    Autor da série, Miguel Falabella diz que "isso é um retrocesso", que as críticas "não têm poder de reflexão, então fica só uma gritaria, uma agressão gratuita, e aí, obviamente, fecha a porta". Segundo ele, "o próximo [roteirista] já vai falar: Não, não, isso vai dar muito trabalho, muito problema".

    João Miguel Júnior/Divulgação/TV Globo
    Lilian Valeska (à esq.), Karin Hils, Maria Bia e Corina Sabbas em 'Sexo e as Negas
    Lilian Valeska (à esq.), Karin Hils, Maria Bia e Corina Sabbas em 'Sexo e as Negas'

    "O problema no Brasil é que o espaço da ficção está profundamente ameaçado", diz Falabella. "Estamos vivendo um momento gravíssimo. O espaço ficcional está ameaçado de forma brutal por esse extremismo."

    Questionada, Djamila Ribeiro, que participou do primeiro vídeo do Blogueiras Negras sobre o programa, responde que, "quando grupos historicamente marginalizados reclamam, é óbvio que quem está numa posição de poder se incomoda".

    Dizer que as críticas à série não trazem reflexão, acrescenta, "é muito problemático, porque falar da exploração do corpo da mulher negra não é novo, existe bibliografia vasta, algo que a gente denuncia desde Vênus de Hotentote, que era exposta em circo no século 19".

    Mestranda em filosofia política pela Unifesp, Djamila participou há um mês de um debate sobre feminismo no programa "Na Moral", com Fernanda Montenegro e outros, na Globo. "Se Falabella não acompanha a discussão, é problema dele", diz.

    Uma das cenas criticadas, no primeiro episódio, trazia um comentário racista, de uma personagem. "E não se questionou aquilo", diz Djamila. "Não adianta jogar, tem que pelo menos tentar discutir, fazer a pessoa que está assistindo pensar."

    Falabella destaca a reação à mesma cena como um exemplo das ameaças que a ficção vem enfrentando no Brasil. "Eu não posso pôr personagem racista? Então não existe? Não estou endeusando: eu preciso ter conflito. São regras básicas de dramaturgia, pô. Está feia a coisa. Está feia a coisa."

    Inspirada na série americana "Sex and the City", com quadros musicais e narrada pelo próprio autor, "Sexo e as Negas" retrata a vida de quatro jovens negras da Cidade Alta de Cordovil, bairro da zona norte do Rio.

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