"Suingue-balanço-funk/ É o novo som na praça/ Batuque samba-funk." Os versos da cantora Fernanda Abreu falam sobre o ano de 1995, mas poderiam descrever o momento atual do funk carioca: uma variação do ritmo -a rasteirinha- está conquistando as pistas modernosas.
Na rasteirinha, os tradicionais 130 batimentos por minuto do funk são reduzidos para cerca de 95 bpm, criando um ritmo suingado e sensual, com uma batida mais marcada. O ritmo lembra o axé e o reggaeton, estilo de origem caribenha.
"É como se o funk e o reggaeton tivessem tido um filho", diz o DJ norte-americano Comrade, um dos responsáveis pela exportação do ritmo para terras estrangeiras.
| Mauro Pimentel/Folhapress | ||
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| DJ Omulu, um dos principais nomes do ritmo conhecido como "rasteirinha", uma vers‹o mais lenta e suingada do funk carioca, em frente ao painel de Câ‰ndido Portinari no Pal‡cio Capanema, no centro do Rio |
A rasteirinha teve sucesso relâmpago nos bailes funks durante o verão de 2014, especialmente com o hit "As Novinhas Tão Sensacional", do MC Romântico, visto mais de 4 milhões vezes no YouTube. "Só de entrar a batida o pessoal já gritava uhullll'", conta DJ Bambam, produtor e empresário de Romântico.
Desde o final do verão, a rasteirinha esfriou nos bailes. "Tudo no funk entra e sai. A única coisa permanente no funk é que ele muda. E os hits surgem quase que por acaso", diz Julio Ludemir, produtor musical e autor do livro "101 Funks que Você Tem que Ouvir Antes de Morrer".
Renato Martins, criador do blog especializado Funk na Caixa, diz que "no inverno essa coisa mais sensual não pega tanto", e conta que muitos MCs estão guardando hits de rasteirinha para o verão.
MODERNINHO
Enquanto isso, é nas boates moderninhas do Rio, de São Paulo e do mundo que ela está florescendo. DJs e produtores de música eletrônica se encantaram pela batida e a incorporaram aos repertórios.
O principal responsável pelo sucesso é o produtor carioca Omulu. "Meu recorte da rasteirinha vem da minha escola de música eletrônica".
No Rio, Omulu costuma tocar suas versões de rasteirinha em festas que concentram o público de áreas como cinema e moda. Em SP, toca em boates moderninhas como o Bar Secreto, em Pinheiros.
Omulu criou faixas como "P.A.T.R.Ã.O.", versão rasteirinha de "P.I.M.P.", do rapper americano 50 Cent, e "Bagulho Doido", em parceria com o DJ Comrade, que já tocou na rádio BBC, de Londres.
A rasteirinha cai bem na cena internacional de "global bass", termo guarda-chuva que descreve a "dance music" com influências de vários cantos do mundo.
Há, segundo produtores, uma tendência mundial de reduzir a velocidade das músicas. "Está na moda um ritmo mais lento na música eletrônica", diz Comrade. "A rasteirinha se encaixa perfeitamente nesse gênero", completa.
"Já toquei o ritmo em Miami, numa festa conhecida, chamada "Shake n Bass". Também já toquei em Los Angeles em outra festa de global bass'. Toco em NY, e é sempre bem recebida", diz ele.
Brasileiros como o DJ João Brasil também embarcaram na onda. Ele tem tocado a versão rasteirinha de uma música do pagodeiro Thiaguinho que, segundo ele, bomba nas pistas. Recentemente tocou-a numa festa em São Paulo.
ORIGEM
Não há consenso sobre a origem do nome "rasteirinha", mas qualquer que tenha sido, é uma referência ao funk rasteiro, ritmo das antigas.
DJ Marlboro, pioneiro do funk carioca, explica: "O funk rasteiro, mais lento, existe desde década de 1980. Girl You Know It's True', da dupla Milli Vanilli, era o rasteiro pop anos 1980. No baile sempre teve esse momento para um funk mais lento".
Resta saber se o subgênero vai voltar às origens, o baile funk carioca, ou tomar voos próprios pelo mundo.
Veja o clipe de "As Novinha Tão Sensacional", do MC Romântico: