• Ilustrada

    Tuesday, 07-May-2024 18:05:10 -03

    Feira de Frankfurt vira palanque de protestos

    ROBERTA CAMPASSI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM FRANKFURT

    08/10/2014 02h00

    Maior evento editorial do mundo, cenário de grandes negociações comerciais, a Feira do Livro de Frankfurt, que começa nesta quarta (8), será palanque de protestos de autores e editoras.

    Até domingo, a 66ª edição do evento incluirá debates contra a Amazon –maior varejista de livros do mundo, acusada de ações predatórias ao mercado–, uma premiação a um crítico de grandes corporações digitais e um projeto que colocará pensadores para desenvolver ideias políticas.

    Autores da Alemanha, irritados com o boicote a livros promovido pela Amazon contra editoras que não aceitam suas condições comerciais, aproveitarão a presença dos 275 mil visitantes esperados no evento para angariar apoio contra a companhia.

    "Buscaremos leitores para assinar uma petição on-line e uma carta dirigida a Jeff Bezos contra os boicotes da loja", diz Thomas Kiwitt, representante da Associação de Jovens Autores e Autoras Alemães. Quem apoiar as iniciativas ganhará livros dos participantes do manifesto.

    A carta a Bezos, CEO e dono da Amazon, foi escrita em agosto como parte da ação "Autores por um Mercado de Livros Mais Justo", apoiada por entidades representantes de escritores alemães. Eram esperadas perto de 300 assinaturas, mas o número já passa de 2.000.

    ANTITRUSTE

    "A Amazon manipula suas listas de recomendações. Usa autores e seus livros como instrumento de pressão para arrancar mais descontos dos editores", diz o documento, sobre o qual a gigante comercial ainda não se manifestou.

    Além do corpo a corpo com leitores, os autores discutirão o papel da Amazon em pelo menos cinco mesas da programação. Terão nisso o apoio da Associação do Comércio Livreiro Alemão, que controla a Feira de Frankfurt e que, em junho, apresentou à autoridade antitruste local uma acusação formal contra a empresa, alegando abuso de poder econômico.

    O estopim dos embates foi a constatação, no semestre passado, de que a Amazon vinha tornando indisponível ou excluindo de suas listas de recomendação livros dos grupos Hachette, nos EUA, e Bonnier, que opera em território alemão. A meta era pressioná-los a aumentar de 30% a 50% a fatia da Amazon na venda de e-books.

    Nos Estados Unidos, mais de mil escritores, incluindo nomes como Stephen King e Paul Auster, também assinaram carta de repúdio à atitude da companhia.

    ANTICORPORAÇÕES

    Em outro posicionamento político, a Associação do Comércio Livreiro Alemão resolveu dedicar seu tradicional Prêmio da Paz a um crítico da forma como o mundo digital vem se desenvolvendo.

    Jaron Lanier, cientista de computação americano, foi um dos criadores da tecnologia de "realidade virtual" na década de 1980 e hoje questiona a maneira como Google, Facebook e outras corporações ganham dinheiro a partir de informações fornecidas por usuários.

    A escolha do premiado deste ano reverbera a indignação dos alemães frente às atividades da agência de espionagem americana NSA, acusada de grampear a chanceler Angela Merkel.

    Entre os autores alemães que endossam o protesto contra a Amazon estão Juli Zeh (autora de "A Menina sem Qualidades", Record) e Ilija Trojanow (autor de "Degelo", Companhia das Letras), dois que já haviam se unido em 2013 em manifesto cobrando de Merkel atitudes mais duras contra a NSA.

    A movimentação política na feira será reforçada ainda por um projeto batizado de "Frankfurt Undercover".

    A partir desta quarta, 30 autores ficarão isolados por três dias para criar um "compêndio de ideias para a política". Cheio de segredos, o projeto, organizado pela dinamarquesa Janne Teller, pretende promover um "brainstorming" entre os participantes, cujos nomes só serão revelados no início da atividade. Segundo a organização da feira, entre eles estão pensadores "dos mais importantes do nosso tempo".

    Exclusiva para editores até sexta (10) e aberta ao público no final de semana, a Feira de Frankfurt servirá de cenário para negociações entre editoras, delineará tendências e receberá autores como Ken Follett, Thomas Piketty e David Nicholls.

    *

    FEIRA DO LIVRO — FRANKFURT

    CONTRA O MONOPÓLIO
    "Monopólio? Mais uma vez a Amazon" e "Autores contra a Amazon: por quê?" são temas de alguns dos debates com autores que se mobilizam contra a maior varejista de livros do mundo

    FIGURÕES LITERÁRIOS Passarão pela feira Ken Follett, divulgando "Eternidade por um Fio", David Nicholls, com "Us" (inédito no Brasil), Thomas Piketty, que estourou com "O Capital no Século 21", e a Nobel Herta Müller

    AUTOPUBLICADOS A feira terá pela primeira vez uma programação de dois dias com palestras totalmente focadas nos escritores autopublicados. Também vai promover o encontro dos autores com agentes e editoras

    PAÍS CONVIDADO A Finlândia, homenageada deste ano, chega com 60 autores de literatura policial, infantil, HQs e romances

    GERADOR DE POESIA O destaque no espaço da Finlândia na feira, todo em tons de branco, é o gerador de poesia Brain Poetry, que mede as ondas cerebrais de cada visitante e a partir delas gera um poema exclusivo

    CADÊ AS BOLSAS? O programa de bolsas de tradução da Biblioteca Nacional, oferecidas a editoras estrangeiras que publicam brasileiros, sofreram corte de 45%, de R$ 1,8 mi (2013) a R$ 1 mi (2014)

    PARA ALEMÃO LER Para 2015, estão previstos na Alemanha títulos de Carola Saavedra, Patrícia Melo e Vanessa da Mata, além de novas edições de Clarice Lispector

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024