• Ilustrada

    Friday, 03-May-2024 10:59:17 -03

    Crítica: Vertigem renuncia ao texto em reflexão sobre conflitos no país

    FABIO CYPRIANO
    DE CRÍTICO DA FOLHA

    10/10/2014 02h50

    Não há companhia de teatro mais afinada com a temática da 31ª Bienal de São Paulo do que o Teatro da Vertigem. Desde 1991, o grupo realiza suas peças em espaços inusitados, como igrejas, hospitais abandonados ou o próprio rio Tietê, revelando locais da cidade nem sempre próximos do mundo da arte.

    Além de se ocupar da cidade, tal qual a Bienal, a companhia costuma abordar a realidade brasileira de forma central em suas performances.

    Em cartaz desde a semana passada como parte da 31ª Bienal, "A Última Palavra É a Penúltima 2.0" aborda situações de tensão e conflito pelas quais o país atravessa, como muitas das obras da mostra.

    Nelson Kon/Divulgação
    Intervenção cênica "A Última Palavra É a Penúltima" na passagem subterrânea do Viaduto do Chá, em SP
    Intervenção cênica "A Última Palavra É a Penúltima" na passagem subterrânea do Viaduto do Chá, em SP

    Esse espetáculo inspirado no texto "O Esgotado", de Gilles Deleuze, representa uma nova faceta na companhia, que a torna ainda mais radical: não há texto. "A Última Palavra..." lembra um espetáculo de dança-teatro, como se moldado por Pina Bausch.

    Montada em um passagem subterrânea ao lado do Theatro Municipal, onde um dia vitrines anunciavam a última moda da cidade, a peça inverte sentidos: o espectador fica dentro das vitrines, e a ação se desenrola na passagem.

    Isso ajuda a criar a dinâmica do espetáculo, na qual os atores atravessam a passagem dezenas de vezes, mas com significados distintos, como se algo da metrópole fosse potencializado em cada pequena cena: das manifestações de junho de 2013 ao uso obsessivo do celular, passando por cenas surrealistas, como a tentativa de salvar uma baleia com respiração boca a boca.

    Releitura de uma peça de 2008, "A Última Palavra..." é como o delírio de febre alta, que nos reposiciona e mostra um mundo diferente, mesmo que ele seja sempre igual.

    A ÚLTIMA PALAVRA É A PENÚLTIMA 2.0
    Quando sex, sáb e dom: às 19h e às 21h. Até 7/12
    Onde passagem subterrânea Viaduto do Chá x praça Ramos de Azevedo. tel. (11) 3255-2713
    Quanto grátis (retirar ingressos no local 30 minutos antes de cada apresentação)
    Avaliação ótimo

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024