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    Crítica: Peça 'Osmo' é monólogo de muitas presenças

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    10/10/2014 02h05

    Se o sujeito está ali, na frente do espectador, e fala sozinho no palco, isso se chama monólogo.

    Ao revelar que os papéis da solidão são variados como uma legião, o espetáculo "Osmo" estilhaça seu protagonista em tanta coisa que aquilo que chamaríamos de monólogo se torna um coro de muitas presenças.

    Com texto adaptado da obra da poeta e dramaturga Hilda Hilst (1930-2004) e direção de Suzan Damasceno, o ator Donizeti Mazonas interpreta um homem solitário, tomando banho.

    Divulgação
    Mazonas nu em tanque de água no palco, no papel de Osmo
    Mazonas nu em tanque de água no palco, no papel de Osmo

    Simples assim, em seu monólogo, ele vai conduzindo a plateia por um universo de regiões psicanalíticas com zonas de escuridão abissal.

    Cabe perguntar-se sobre o que o personagem está falando, mas sobretudo para quem ou para o quê.

    Essas duas questões iniciais da peça se abrem para enigmas de dimensões ainda maiores a respeito da relação entre o homem e o mundo, entre o corpo e a alma.

    Osmo, o protagonista, inicia a conversa falando sobre um monstro que habita um lago. Um menino vai apanhar uma flor e acaba engolido.

    O personagem explica então que o monstro e a flor estão em seus papéis mais cômodos, de esperar. O menino, não. Ele se arrisca em busca de algo, em movimento.

    PROFUNDO OCEANO

    Faz lembrar uma canção do Radiohead, "Weird Fishes/Arpeggi", que, em um verso, diz: "in the deepest ocean/ the bottom of the sea/ your eyes/ they turn me/ why should I stay here?" (no mais profundo oceano/ o fundo do mar/ seus olhos/ voltam-se em mim/ por que eu permaneceria aqui?).

    Pois durante o banho, Osmo vasculha um oceano ao passo em que fala de mulheres, da mãe, da relação com as estrelas, da morte e da masturbação. Por que ele ficaria ali, apenas?

    Mazonas conduz sua performance pela exata compreensão de uma incessante busca. Nos momentos de lucidez, dirige-se à plateia; em breves delírios, é capaz de passar a impressão de solidão total, da ausência completa, com seus anjos e demônios.

    No quadro, há uma segunda presença: a atriz Erica Knapp está em silêncio, sentada, com seu colar de pérolas. Não é um personagem. Talvez o rastro de uma lembrança.

    OSMO
    QUANDO ter. e qua., às 21h30
    ONDE Sesc Ipiranga, r. Bom Pastor, 822, tel. (11) 3340-2000
    QUANTO de R$ 4 a R$ 20
    CLASSIFICAÇÃO 18 anos
    AVALIAÇÃO ótimo

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