Se o sujeito está ali, na frente do espectador, e fala sozinho no palco, isso se chama monólogo.
Ao revelar que os papéis da solidão são variados como uma legião, o espetáculo "Osmo" estilhaça seu protagonista em tanta coisa que aquilo que chamaríamos de monólogo se torna um coro de muitas presenças.
Com texto adaptado da obra da poeta e dramaturga Hilda Hilst (1930-2004) e direção de Suzan Damasceno, o ator Donizeti Mazonas interpreta um homem solitário, tomando banho.
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Mazonas nu em tanque de água no palco, no papel de Osmo |
Simples assim, em seu monólogo, ele vai conduzindo a plateia por um universo de regiões psicanalíticas com zonas de escuridão abissal.
Cabe perguntar-se sobre o que o personagem está falando, mas sobretudo para quem ou para o quê.
Essas duas questões iniciais da peça se abrem para enigmas de dimensões ainda maiores a respeito da relação entre o homem e o mundo, entre o corpo e a alma.
Osmo, o protagonista, inicia a conversa falando sobre um monstro que habita um lago. Um menino vai apanhar uma flor e acaba engolido.
O personagem explica então que o monstro e a flor estão em seus papéis mais cômodos, de esperar. O menino, não. Ele se arrisca em busca de algo, em movimento.
PROFUNDO OCEANO
Faz lembrar uma canção do Radiohead, "Weird Fishes/Arpeggi", que, em um verso, diz: "in the deepest ocean/ the bottom of the sea/ your eyes/ they turn me/ why should I stay here?" (no mais profundo oceano/ o fundo do mar/ seus olhos/ voltam-se em mim/ por que eu permaneceria aqui?).
Pois durante o banho, Osmo vasculha um oceano ao passo em que fala de mulheres, da mãe, da relação com as estrelas, da morte e da masturbação. Por que ele ficaria ali, apenas?
Mazonas conduz sua performance pela exata compreensão de uma incessante busca. Nos momentos de lucidez, dirige-se à plateia; em breves delírios, é capaz de passar a impressão de solidão total, da ausência completa, com seus anjos e demônios.
No quadro, há uma segunda presença: a atriz Erica Knapp está em silêncio, sentada, com seu colar de pérolas. Não é um personagem. Talvez o rastro de uma lembrança.
OSMO
QUANDO ter. e qua., às 21h30
ONDE Sesc Ipiranga, r. Bom Pastor, 822, tel. (11) 3340-2000
QUANTO de R$ 4 a R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo