Não é uma Espanha "almodovariana", de cores berrantes, a que se verá em muitos dos longas do país na Mostra de Cinema de São Paulo.

Boa parte dos longas da nova safra espanhola, foco do festival, são bem distintos da filmografia de Pedro Almodóvar —a que os brasileiros estão mais acostumados—, mas guardam uma semelhança: giram em torno da crise econômica do país europeu.

"Não são tempos para frivolidades. Temos uma responsabilidade diante do que sucede ao nosso redor", afirma à Folha o diretor Alfonso Zarauza, que tem na mostra "Os Fenômenos", em exibição nesta quinta, às 21h15, no Cine Sabesp (r. Fradique Coutinho, 361; tel. 11- 5096 0585).

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	Lola Dueñas vive a peona de obras Neneta no espanhol 'Os Fenômenos'

No filme, Neneta (Lola Dueñas) encontra emprego como peona de obras na construção civil, em meio ao estouro da bolha imobiliária na Espanha.

"Interessava-me falar dos vencidos pela crise, ainda que de maneira autocrítica e reflexiva", diz o cineasta. "Há alguns anos talvez não fosse necessário fazer um cinema tão abertamente social e político."

Para contornar as dificuldades financeiras, o casal Natalia (Ingrid García Jonsson) e Carlos (Carlos Rodríguez) decidem rodar um filme pornô amador no longa quase documental "Hermosa Juventud", de Jaime Rosales, premiado no último Festival de Cannes.

O documentário "Em Terra Estranha", da madrilena Icíar Bollaín, trata do êxodo de migrantes espanhóis, em particular os 20 mil que arriscaram a sorte na capital da Escócia.

IDEALISTA, NÃO REALISTA

"Vivemos num tempo complicado, tanto em termos sociais como culturais no país, então há uma geração que se ajuda nos filmes", conta à reportagem Jonás Trueba, diretor de "Os Iludidos". "Somos cineastas muito diferentes um do outro, mas creio que compartilhamos essa energia de fazer cinema, apesar de tudo."

Rodado em preto e branco, "Os Iludidos" traz personagens que perambulam por ruas desertas de Madri e, entre goles de cerveja em bares na madrugada, especulam sobre novos projetos no cinema.

"É um filme idealista, não realista", continua Trueba. "É sobre esse entretempo abstrato que transcorre quando um diretor acabou um filme e ainda não começou outro."

Apesar de não tratar da crise, o filme é filho dela: Trueba não teve distribuidor e girou a Espanha com uma cópia só do longa, mostrando-o em capitais de províncias, "como um grupo de teatro". "Atingiu o melhor público possível: quem foi atrás dele", afirma.

Mas não há só crise. Entre os 30 títulos inéditos da seção espanhola há "Viver É Fácil com Os Olhos Fechados", de David Trueba, road movie que é o candidato espanhol ao Oscar, além dos terrores "A Caverna", de Alfredo Montero, e "As Bruxas de Zugarramurdi", do cult Álex de La Iglesia.