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    Crítica: Argentino 'Relatos Selvagens' diverte com explosões de fúria

    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    17/10/2014 02h56

    A situação sai inesperadamente do controle. Em um voo de carreira, na estrada, no restaurante, num casamento, nas filas de repartições. A química entre vingança e fúria se transforma em explosão, rompendo limites da convivência cordata e namorando com o surreal.

    Seis histórias com esses ingredientes compõem o argentino "Relatos Selvagens", dirigido por Damián Szifrón e produzido por Pedro Almodóvar. Ágil, o filme mistura comédia e drama. Diverte, mesclando soluções surpreendentes e mais previsíveis.

    Em parte dos episódios, o abismo surge em momentos prosaicos. Numa estrada livre, o homem rico com um carro de luxo xinga o pobre que, em um velho calhambeque, prejudica a ultrapassagem. A coisa parece fluir em ritmo de comercial de veículos até que... um pneu fura. Daí se vai até o grotesco e o humor negro.

    Em outro caso, o protagonista vivido pelo galã Ricardo Darín se rebela contra a burocracia do departamento de trânsito que guincha o seu carro e lhe aplica multa por estacionar em lugar proibido.

    A situação banal ganha ares de conspiração (o cidadão versus o Estado?) e mergulha num desfecho incômodo, brincando com o terror.

    O foco na gana em fazer justiça com as próprias mãos também rege a história macabra e sombria que acontece tarde da noite em um restaurante.

    Igualmente é esse o mote da narrativa que inaugura a fita; numa cabine de avião, uma modelo, olhando as fotos de feras em revista de bordo, começa a conversar com um vizinho de assento. Descobrem que têm um perturbador conhecido em comum.

    Mais presumível é o desenrolar do último episódio, que se passa numa estridente festa de casamento prestes a desmoronar –ou a virar uma farsa mais vibrante. Uma sátira ao maravilhoso mundo corrupto de poderosos sustenta o caso provocado por um atropelamento em um bairro rico de Buenos Aires.

    TURBILHÃO

    No conjunto, o filme tem uma dinâmica intensa. Mas pouco se fica sabendo sobre os personagens que perdem as estribeiras.

    Diferentemente de "Um Dia de Fúria" (Joel Schumacher, 1993), no qual Michael Douglas interpreta um desesperado desempregado, que ganha densidade dramática na sua explosão de raiva, aqui tudo é consumido no turbilhão de sequências frenéticas, sem tempo para reflexões.

    Criador da série argentina "Os Simuladores", o diretor Damián Szifrón trabalha bem a partir da lógica televisiva. Cortante, sua estética conquista e envolve. Afinal, quem não esteve à beira de um ataque de nervos?

    RELATOS SELVAGENS
    (Relatos Salvajes)
    DIREÇÃO Damián Szifrón
    ELENCO Ricardo Darín, Oscar Martínez, Leonardo Sbaraglia
    PRODUÇÃO Argentina/Espanha, 2014; 14 anos
    MOSTRA sexta (17), às 23h45, no CineSesc, r. Augusta, 2.075; tel (11) 3087-0500, R$ 20; domingo (19), às 17h40, no Reserva Cultural, av. Paulista, 900; tel (11) 3287-3529; R$ 20
    AVALIAÇAO bom

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