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    Irmãos Dardenne se juntam a atriz famosa em 'Dois Dias, Uma Noite'

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    18/10/2014 02h19

    "Todo mundo tem suas razões." O ditado que os irmãos belgas Jean-Pierre, 63, e Luc Dardenne, 60, tomam emprestado do diretor francês Jean Renoir para explicar por que não julgam os personagens em seus longas cai como uma luva em seu novo drama, "Dois Dias, Uma Noite".

    O filme que pré-estreia no Brasil na Mostra de São Paulo marca a primeira vez em que a dupla ganhadora de duas Palmas de Ouro, pelos longas "Rosetta" (1999) e "A Criança" (2005), trabalha com um ator de fama mundial em vez dos habituais amadores ou pouco conhecidos. Nesse caso, a francesa Marion Cotillard, 39.

    A razão, porém, é trivial. A vontade de trabalhar com a atriz vencedora do Oscar por "Piaf - Um Hino ao Amor" em 2007 e conhecida por atuar nos filmes pop "A Origem" (2010) e "Batman "" O Cavaleiro das Trevas Ressurge" (2012) se deu porque eles se esbarram num elevador em Cannes.

    Divulgação
    A atriz Marion Cotillard em cena de 'Dois Dias, Uma Noite
    A atriz Marion Cotillard em cena de 'Dois Dias, Uma Noite'

    A chegada da atriz ao projeto deixou a dupla receosa, admite Jean-Pierre, o mais quieto dos irmãos conhecidos por filmes naturalistas. "Mas isso tornou a experiência mais interessante." Os ensaios duraram seis semanas.

    "Foi uma batalha para inserirmos Marion em nosso universo, mas ela provou que não é apenas uma grande atriz, mas uma pessoa incrível na vida de todos que participaram do projeto", diz Luc.

    Em "Dois Dias, Uma Noite", Marion interpreta Sandra, funcionária de uma fábrica de painéis solares que, após passar um tempo afastada por depressão, descobre que os colegas votaram por sua demissão, em troca de um bônus de mil euros.

    Mas ela consegue convencer o chefe a organizar uma nova votação e precisa, em um fim de semana, conseguir reverter a escolha de nove de 16 colegas de trabalho.

    "Foi uma história que aconteceu dez anos atrás, em nossa região, mas sabemos que pode ser em qualquer canto com as condições de trabalho cada vez mais desumanas", explica Luc. "Os chefes exploram as difíceis condições de vida da classe trabalhadora, gerando o pavor de não ter dinheiro para chegar até o fim do mês."

    Assim como em todas suas obras, os Dardenne não conduzem o drama de maneira maniqueísta ou apontando dedos. Na jornada de Sandra, mulheres negam ajuda, imigrantes vacilam, homens se arrependem ou a ameaçam.

    "Não podemos generalizar, seria um erro", resume Jean-Pierre. "A própria Sandra não condena ninguém, porque sabe a diferença que uma quantia assim faz na vida daquelas pessoas e é preciso muita coragem para apoiar alguém em uma situação difícil", completa Luc.

    Ainda mais quando esse alguém sofre de depressão. "Ela achava que estava curada, mas a situação a joga novamente no chão. Agora somos especialistas na doença. Quem quiser uma consulta, pode nos procurar", revela Jean-Pierre.

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