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    Livro reforça uso do skate em obras de arte

    REGIANE TEIXEIRA
    DE SÃO PAULO

    22/10/2014 02h05

    Nus, em forma de esqueleto ou com o coração na mão, eles deslizam por pistas e avenidas. Em cenas comuns ou absurdas, o universo dos skatistas está representado em traços de nanquim na obra recém-lançada "Desequilibristas" (ed. Peirópolis), do escritor e artista Manu Maltez, 37.

    Em seu quinto livro, o paulistano reuniu desenhos que descrevem de maneira poética a relação entre os skatistas e a cidade. São imagens e textos que, segundo o autor, devem ser "declamados em praça pública equilibrando-se em um skate pela cidade em chamas".

    TRAÇOS INDEFINIDOS

    Os desenhos de "Desequilibristas" se formam a partir de traços indefinidos, numa linguagem mais distante da que é associada à cultura do skate, como a do grafite. "O skate é um exercício de liberdade e eu queria levar o tema ao mundo mais clássico da arte", diz Maltez.

    Em 2011, ele ganhou o Prêmio Jabuti de ilustração por "O Corvo" (ed. Scipione, R$ 51,90), baseado no poema de mesmo nome de Edgar Allan Poe.

    Obras que usam o skate como tema, suporte ou referência têm sido cada vez mais recorrentes no mundo das artes.

    Para o galerista Lucas Pexão, os movimentos executados no esporte inspiram seus praticantes e observadores.

    "Muitas vezes, o que os skatistas fazem está mais ligado à expressão corporal. A competição é a última prioridade para a maioria", afirma.

    Em São Paulo, o skate já foi representado até na 29ª Bienal de São Paulo, em 2010, quando foi instalada uma obra do artista Kboco e do arquiteto Roberto Loeb em forma de rampa no Ibirapuera.

    Cauê Alves, professor de arte contemporânea da PUC, acredita que o assunto é constante porque ainda causa conflito. "Não é um problema como no passado, mas basta lembrar dos atritos recentes entre moradores e skatistas na praça Roosevelt", diz.

    MANOBRA CRIATIVA

    Deslizar pela metrópole sobre rodinhas desenvolve um novo olhar sobre a arquitetura e sobre a cidade, segundo os skatistas. Fora das galerias, o último fetiche visual é fazer vídeos com câmeras antigas. "A ideia é explorar a estética de vídeos amadores, de que qualquer um pode fazer", explica o skatista Alexandre Cotinz, 29, conhecido por produções experimentais.

    Outros preferem inovar construindo obstáculos na rua, como o sueco Pontus Alv, que popularizou a prática fazendo rampas entre paredes e calçadas.

    O fotógrafo Renato Custódio, 33, desenvolve um projeto semelhante, mas quer dar mais foco para a faceta artística dos obstáculos usando azulejo. "A ideia é fazer a intervenção debaixo de viadutos e em praças, autorizados ou não", diz.

    No caso do fotógrafo Fabiano Rodrigues, 39, o skate chegou a ser profissão. Em 2007, ele largou o esporte e passou a fazer uma série de fotos de si mesmo, com a ajuda de um controle remoto, andando de skate em lugares como museus, universidades e mesquitas.

    Marcelo Cidade, 35, que usou lixas de skate para homenagear as bandeirinhas de Alfredo Volpi (1896-1988), diz que não ilustra o tema, mas o trata como uma ferramenta de percepção. "Foi algo importante para mim, mas hoje ando de bicicleta e tenho a mesma endorfina."

    DESEQUILIBRISTAS
    AUTOR Manu Maltez
    EDITORA Peirópolis
    QUANTO R$ 49 (112 págs.)

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