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    Domingos Oliveira exibe 'Infância' na Mostra de SP e lança autobiografia

    GUILHERME GENESTRETI
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    24/10/2014 02h00

    "Sou o que as mulheres que eu amei fizeram de mim", define-se Domingos Oliveira, 78. Coerente, o diretor de "Todas as Mulheres do Mundo" (1967) dividiu sua autobiografia recém-lançada em 14 partes. Metade leva nomes femininos: Leila Diniz, Priscilla Rozembaum, Maria Mariana...

    "Não sou rico, não sou gênio. Mas sou forte no amor. É vocação: amo muito", diz ele, que recebe a Folha de suspensórios e sapatos vermelhos em seu apartamento no Leblon, zona sul do Rio, cuja decoração inclui seis Kikitos (prêmios do Festival de Gramado) e um pôster de seu filme "Edu, Coração de Ouro" (1968).

    As 336 páginas de "Vida Minha" (Record, R$ 55) saíram de diários mantidos há mais de 20 anos. "Toda vez que me perdia em mim mesmo, escrevia."

    Paula Giolito/Folhapress
    Cineasta Domingos Oliveira em seu apartamento no Rio
    Cineasta Domingos Oliveira em seu apartamento no Rio

    Estão lá as bebedeiras na boêmia carioca dos anos 1950 e 60 ("Nunca vi a sarjeta como um lugar ruim", anota), os primeiros filmes, as peças de teatro, os trabalhos na Globo, os cinco casamentos.

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    Domingos Oliveira
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    As histórias de amor, separação, família, memória retratadas em seus filmes lhe valeram a alcunha de "diretor das relações humanas", e o desdém dos diretores engajados do movimento cinema novo.

    Arte e vida pessoal se misturam na trajetória do diretor, cuja obra é essencialmente autobiográfica. "A vida tem uma dramaturgia espetacular."

    Em "Todas as Mulheres do Mundo", o mais famoso de seus 16 filmes, Leila Diniz interpreta Maria Alice, que leva um bon vivant (Paulo José) ao dilema: para ficar com ela, precisará deixar as paqueras.

    Diniz (1945-72), com quem foi casado, era uma "menininha com furor incrível", uma superdose de LSD (ácido lisérgico), define na autobiografia.

    "Em cada quadradinho, fora pingada uma gota de LSD. Um negócio muito comum, contudo, era a mão do fabricante tremer um pouco e, em certos quadradinhos, caírem duas gotas [...] A mão de Deus de vez em quando também dá uma tremida [...] Foi o caso de Leila."

    Por que a atriz se tornou um fenômeno? Para responder, Domingos pede para ler um trecho lotado de epítetos: "a verdadeira revolução", "vida fulgurante". Ele lacrimeja.

    Suas obras, no entanto, não remetem apenas a relacionamentos amorosos. Neste ano, Domingos lança "Infância", em exibição nesta sexta (24) na Mostra de São Paulo.

    Fernanda Montenegro faz uma matriarca durona inspirada em sua avó materna.

    O longa ainda não tem distribuidor para os cinemas. "Não há lugar para um filme que dá ao espectador o que ele precisa, e não o que ele quer."

    NOVA PAIXÃO

    Poeta em privado para sua mulher, Priscilla Rozembaum, Domingos se apaixonou pela prosa. Ele acabou de escrever um romance, baseado no longa "Azul É a Cor Mais Quente" (2013), sobre um sujeito mais velho que se envolve com um casal de lésbicas.

    Com parkinson há 14 anos, que diz já ter escondido para não perder oportunidades, Domingos deu um título provisório para o livro: "O Primeiro Dia da Morte de um Homem".

    "Ninguém nasce ou morre de repente. Existe um longo processo de morrer, que começa num dia", diz. "Sempre me pergunto se o meu já chegou. Acho que não."

    INFÂNCIA
    DIREÇÃO Domingos Oliveira
    PRODUÇÃO Brasil, 2014, 14 anos
    MOSTRA sex. (24), às 14h, no Espaço Itaú - Augusta

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