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    Crítica: Mistério sobre série de crimes é contado com humor sombrio

    INÁCIO ARAÚJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    26/10/2014 02h10

    É quase impossível não assistir a "O Pequeno Quinquin" sem se lembrar de "Twin Peaks", a série que David Lynch fez para a TV (aliás, também "Quinquin" é na origem uma série de TV).

    Mas também é impossível não notar as diferenças entre ambos. A semelhança vem do mistério inicial (uma série de crimes que acontece numa pequena cidade francesa) e da maneira como, em vez de se dissipar, ele tende a se tornar mais denso.

    Começa por uma vaca que aparece morta num reservatório onde ela não poderia chegar sozinha. Mas não se detém na hipótese da vaca louca. Há gente dentro dessa vaca, afinal.

    Divulgação
    Julien Bodard, Corentin Carpentier e Alane Delhaye em cena de P'tit Quinquin, de Bruno Dumont
    Julien Bodard, Corentin Carpentier e Alane Delhaye em cena de P'tit Quinquin, de Bruno Dumont

    As diferenças entre "Quinquin" e "Twin Peaks" não são menos evidentes: marcam não só a distância entre os continentes (América e Europa), mas também entre estilos.

    Lynch chama a atenção por um estilo que enfatiza a ligeira distância entre a convenção cinematográfica e a vida real; com Bruno Dumont estamos na tradição realista do cinema francês.

    A ação se dá num lugar pobre. A pobreza se estampa em cada rosto: é a uma França rural, mas nada bucólica, que o filme nos leva.

    Tudo ali tem um quê estranho, desde a expressão ligeiramente deformada dos rostos, a começar pela do menino Quinquin. E cada um desses rostos começa não a revelar, mas a desdobrar seus mistérios à medida que novos crimes são descobertos.

    andar estranho

    Tais eventos seriam apenas misteriosos se a tentar solucioná-los não estivessem o chefe Van der Weyden e o tenente Carpentier.

    Carpentier e seu filosofar, Van Der Weyden e seu andar estranho, seus tiques e a sua incapacidade de ver além de um palmo do nariz, fornecem o elemento cômico de "O Pequeno Quinquin".

    Esse humor é novo no trabalho de Dumont. À sua habitual proximidade do cinema de Robert Bresson (1901-99), Dumont acrescenta aqui uma ponta de cinismo: em "Quinquin" o espiritual parece lutar com o material pelo domínio das almas deste mundo.

    Aliás, lutar e perder. O mundo de Dumont continua sombrio. O humor não nos faz esquecer que estamos, ali, numa encruzilhada das bestas humanas.

    O PEQUENO QUINQUIN
    (P'TIT QUINQUIN)
    DIREÇÃO Bruno Dumont
    PRODUÇÃO França, 2014, 14 anos
    MOSTRA dom. (26), às 17h20, no CineSesc; ter. (28), às 15h, na Faap; qua. (29), às 20h40 no Reserva Cultural
    AVALIAÇÃO ótimo

    Assista ao trailer do filme:

    Vídeo

    Assista ao vídeo em tablets e celulares

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