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    Crítica: Filme ajuda a compreender o sofisticado olhar de Zhangke

    PEDRO BUTCHER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    25/10/2014 02h01

    Quando "Um Toque de Pecado", de Jia Zhangke, foi exibido no Festival de Cannes, em maio de 2013, o diretor comentou entusiasmado que seu filme já havia sido aprovado pelo órgão estatal responsável pelo cinema na China. Faltava apenas marcar a data de lançamento.

    Mas não foi bem assim. Meses depois, Zhangke soube que a decisão havia sido revogada. O momento, que o deixa abalado, está documentado em "Jia Zhangke, um Homem de Fenyang". E esse é apenas um dos detalhes que aproximam o filme de Walter Salles da obra do chinês.

    Ao documentar o diretor que se tornou o principal cronista das transformações da China contemporânea, Salles contribui para escrever essa crônica, capturando aspectos que não caberiam em um filme do cineasta, como o próprio fato de que seus filmes, vitimados pela censura, mal circularam em seu próprio país.

    Divulgação
    O cineasta chinês Jia Zhangke, ao centro, com bandeja
    O cineasta chinês Jia Zhangke, ao centro, com bandeja

    Salles e o fotógrafo uruguaio Inti Briones acompanham Jia Zhangke em várias situações. O filme começa com uma longa caminhada de Zhangke e Wang Hongwei (ator de seu primeiro longa, "Pickpocket") pelas ruas que serviram como locação para o filme. Agora, esses lugares estão irreconhecíveis.

    Alguns momentos de sabor agridoce mostram Zhangke em conversas informais com a família e vizinhos, quando vêm à tona memórias de seus tempos de criança, ainda sob os princípios da China comunista. "Minha principal lembrança da infância é a fome", diz, a certa altura.

    Salles recheia seu documentário com cenas de filmes sem cair na armadilha de transformá-las em meras ilustrações. Cada trecho contribui para uma melhor compreensão da sofisticada operação do olhar de Zhangke.

    Nesse sentido, um dos momentos mais tocantes do filme é aquele em que o cineasta conta o dia em que seu pai foi ver "Em Busca da Vida". A reação do velho foi de preocupação ("Alguns anos antes você seria preso", disse). Bastante emocionado, Zhangke diz que seu pai teve poucos momentos de felicidade na vida.

    JIA ZHANGKE, UM HOMEM DE FENYANG
    DIREÇÃO Walter Salles
    PRODUÇÃO Brasil, 2014, livre
    MOSTRA sáb. (25), às 20h, CineSesc; seg. (27), às 20h30, no Cine Livraria Cultura
    AVALIAÇÃO ótimo

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