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    Walter Salles lança filme sobre o cineasta chinês Jia Zhangke

    PEDRO BUTCHER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    25/10/2014 02h00

    Os caminhos de Walter Salles, 58, e Jia Zhangke, 44, se cruzaram pela primeira vez em 1998, quando "Central do Brasil", o terceiro longa-metragem de Salles, e "Xiao Wu, Artesão Pickpocket", o primeiro de Zhangke, participaram do Festival de Berlim.

    Selecionado para a competição, "Central" acabou levando o Urso de Ouro, enquanto o filme de Zhangke recebeu dois prêmios da mostra Fórum, da qual foi considerado o grande destaque.

    Dezesseis anos depois, Salles acaba de concluir o documentário "Jia Zhangke, um Homem de Fenyang", retrato meticuloso sobre aquele que se tornou o grande cronista de uma China em transformação e um dos cineastas mais premiados da atualidade (em 2006, ganhou o Leão de Ouro de Veneza com "Still Life "" Em Busca da Vida").

    Divulgação
    O cineasta chinês Jia Zhangke, ao centro, com bandeja
    O cineasta chinês Jia Zhangke, ao centro, com bandeja

    "Um Homem de Fenyang" foi exibido pela primeira vez no último dia 20, no Festival de Roma, quando Salles recebeu o troféu Marc'Aurelio pelo conjunto de sua obra. Agora ganha sua estreia no Brasil —simultaneamente ao lançamento do livro "O Mundo de Jia Zhangke", do crítico francês Jean-Michel Frodon— como parte da programação da Mostra de Cinema de São Paulo —onde o filme teve sua gênese.

    "O projeto nasceu durante a Mostra, em conversas com Leon Cakoff [fundador da Mostra, 1948-2011] e Renata de Almeida [diretora do evento]", conta Salles à Folha. "Leon era um amante do cinema e, como todo ser passional, tinha ideias bem definidas. Não concordávamos em tudo, mas, quando vimos Em Busca da Vida', ficou claro para nós que Jia Zhangke havia se transformado no cineasta mais importante da sua geração", diz Salles.

    Salles vê no cinema de Jia Zhangke uma incrível capacidade de registrar a memória coletiva das pessoas comuns de seu país, o que faz dele "um poderoso instrumento para registrar aquilo que estamos perdendo: a memória de todo um tempo".

    O interesse do brasileiro pelo cinema de Zhangke nasceu com "Xiao Wu, Artesão Pickpocket" (1997), que segue um jovem batedor de carteiras.

    "O filme revela um cineasta singular, ao mesmo tempo livre e rigoroso. Fiquei profundamente impactado. Plataforma' (2000) aprofundou essa sensação. A história dos personagens se confundia com as mudanças traumáticas de todo um país. Foi um choque e uma revelação."

    O primeiro encontro mais longo entre os dois foi em 2007, durante a Mostra. "Começamos a falar do livro e do documentário", lembra.

    "Mas esperamos o momento certo para filmar, no fim de 2013, quando nenhum de nós estava envolvido com outros projetos. Foram dez dias em Fenyang, sua cidade natal, no norte da China. Sem o contato com o dialeto, os amigos e familiares de Jia, não teria sido possível um filme sobre um cineasta tão particular."

    'TERREMOTO'

    Salles já tinha ido ao país duas vezes, uma delas para a produção da série "China, O Império do Centro" (1987), para a TV Manchete. Mas a viagem mais recente foi marcada pelo impacto do processo de mutação do país, fruto da abertura econômica e política. "Jia está no centro do terremoto', e seu olhar é o de quem registra de forma precisa mas também solidária a epopeia dos flutuantes', aqueles que não detêm o poder nesse universo."

    A viagem contou com a companhia do crítico francês Jean-Michel Frodon, 61, ex-editor da revista "Cahiers du Cinéma". "Jean-Michel foi um dos primeiros a perceber a relevância dos filmes de Jia. Sem ele, o livro sobre Jia não teria esse grau de imersão."

    Walter Salles está particularmente feliz que o prêmio pelo conjunto de sua obra, recebido no Festival de Roma, esteja ligado ao lançamento do documentário sobre Jia Zhangke. "Hoje, ouvimos constantemente falar de séries de TV ou de mídias sociais como reflexos urgentes do mundo. Jia recoloca o cinema no centro do debate. Os seus filmes mostram que não há instrumento mais revelador para entendermos a complexidade do mundo do que o cinema."

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