• Ilustrada

    Saturday, 27-Apr-2024 12:33:39 -03

    Crítica: Retrato delirante da existência encontra poesia no cotidiano

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    26/10/2014 02h30

    Apesar de "Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência" ser a última parte da trilogia formada por "Canções do Segundo Andar" (2000) e "Vocês, os Vivos" (2007), o filme do prestigiado diretor sueco Roy Andersson, 71, pode ser saboreado de forma isolada.

    Principalmente porque não há uma narrativa linear. A comédia, vencedora do Leão de Ouro no último Festival de Veneza, utiliza Sam (Nils Westblom) e Jonathan (Holger Andersson), dois melancólicos vendedores de produtos de festas à fantasia, como ponto de conexão entre quase 40 historietas curtíssimas e, assim, mostra um retrato absurdo, variado e delirante da existência humana.

    Há o senhor que morre depois de pagar pela refeição em um cruzeiro, a professora de flamenco que assedia um aluno, trocas de gentilezas pelo telefone com um fundo trágico (macacos testados em laboratórios, um velho prestes a se matar). E por aí vai.

    Divulgação
    Cena do filme 'Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência'
    Cena do filme 'Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência'

    Andersson diz ter se inspirado na pintura "Caçadores na Neve", de Pieter Bruegel, "o Velho" (1525-1569), que mostra pássaros observando a vida de uma vila. Mas não há como deixar de lembrar dos quadros do Monty Python em alguns momentos.

    Tempo e espaço não importam para o cineasta, assim como não importa para a trupe inglesa, que colocou um policial investigando um crime na Idade Média ("Em Busca do Cálice Sagrado") ou óvnis nos tempos de Cristo ("A Vida de Brian").

    Aqui, o sueco cria um bar moderno que serve de parada para a campanha do rei Carlos 11, da Suécia, contra os russos.

    Tudo é válido para que Andersson, em suas tomadas estáticas, coloridas e distantes, encontre poesia no cotidiano. Só que, ao contrário de seu conterrâneo Ingmar Bergman, ele parece crer que somente rindo de nós mesmos e de nossas ansiedades ridículas é que encontraremos a saída da involução humana.

    UM POMBO POUSOU NUM GALHO REFLETINDO SOBRE A EXISTÊNCIA
    (EN DUVA SATT PÅ EN GREN OCH FUNDERADE PÅ TILLVARON)
    DIREÇÃO Roy Andersson
    PRODUÇÃO Suécia/Alemanha/Noruega/França, 2014, 16 anos
    MOSTRA dom. (26), às 18h50, no Espaço Itaú - Frei Caneca; seg. (27), às 22h15, no CineSesc
    AVALIAÇÃO ótimo

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024