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    Diretor de 'Entre os Muros da Escola' retrata sonhos frustrados em Cuba

    WALTER PORTO
    DE SÃO PAULO

    26/10/2014 02h20

    Cinco amigos se reúnem ao redor de uma garrafa de Coca-Cola para comemorar a volta de um deles de um exílio de 16 anos na Espanha. Na conversa, referências a Beatles e ao escritor peruano Mario Vargas Llosa. O cenário: o alto de um prédio em Cuba.

    Essa é a premissa de "Retorno a Ítaca", do francês Laurent Cantet, vencedor da Palma de Ouro em 2008 por "Entre os Muros da Escola".

    Entre os amigos, um pintor que largou as telas, uma mulher que lamenta a morte e a separação de pessoas queridas, um funcionário público rico rechaçado pelos colegas. Amadeo, que se impôs o exílio, é um escritor que não consegue se inspirar longe das agruras de seu povo.

    Divulgação
    Atores em cena do filme "Retorno a Ítaca", de Laurent Cantet, que faz parte da programação da Mostra 2014
    Atores em cena do filme "Retorno a Ítaca", de Laurent Cantet, que faz parte da programação da Mostra 2014

    "O filme é crítico porque o povo critica muito o regime, mesmo. Mas fazem isso porque eles amam muito seu país", diz o diretor à Folha.

    As visitas que fez à ilha, conta, foram o estímulo para filmar aquela realidade. "Você se apaixona nas ruas, conversando com as pessoas. Elas querem falar do país para você." Reuniu tantas histórias que resolveu voltar a retratar Cuba após ter rodado um dos curtas do filme "7 Dias em Havana", de 2012.

    Apesar de ouvir queixas sobre repressão e crise econômica, Cantet encontrou um tom construtivo. "A população está preocupada em manter o que há de bom, como o sistema de educação, de saúde, mas espera por melhoras."

    Com um dos poucos regimes declarados socialistas do mundo, o país latino gera discursos intensos de amor e ódio. "Cuba é uma situação única, algo quase mitológico. Por isso, o título remete à cidade de Odisseu [protagonista da "Odisseia", de Homero], e à volta do herói. É um país que representa esperança para muitos de nós."

    O escritor cubano e colunista da Folha Leonardo Padura, corroteirista do filme, afirma que o ponto central do roteiro não é tecer críticas a Castro. "[Isso] reduz a história: é um conflito de caráter humano e existencial, em que a política tem um peso".

    Os 96 minutos são dedicados a lembranças de sonhos antigos e à reflexão de como decisões pragmáticas e a dureza do Período Especial (os anos seguintes ao fim da URSS) mudaram os princípios de cada um. "É sobre vidas frustradas", diz Padura.

    Mas, segundo ele, a intolerância do governo, importante no revés de alguns personagens, melhorou nos últimos anos. "Senão, não se poderia fazer um filme como 'Retorno a Ítaca' com autorização oficial cubana."

    O diretor concorda: "O país está num momento em que está aberto para parar e refletir sobre o que deu certo e errado. E isso é muito bom".

    RETORNO A ÍTACA
    (RETOUR À ITHAQUE)
    DIREÇÃO Laurent Cantet
    PRODUÇÃO 2014, França, 16 anos
    MOSTRA dom. (26), às 19h15, no Reserva Cultural; seg. (27), às 11h na Faap

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