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    Filme diz que cada um tem de escolher um lado na questão das cotas raciais

    RODOLFO LUCENA
    DE SÃO PAULO

    27/10/2014 02h20

    A questão das cotas raciais —reserva de vagas na universidade para determinados grupo étnicos— ganhou o telão. E não chega em documentário cabeça nem em curta de linguajar sociologuês, mas sim numa narrativa premiada que retrata o período em que uma família de classe alta do Rio de Janeiro tem de enfrentar a quebradeira.

    É ponto de discussão educada e politicamente correta no jantar da família endinheirada retratada em "Casa Grande", de Fellipe Barbosa, é assunto no exclusivo colégio para rapazes que Jean (Thales Cavalcanti), filho do executivo falido, frequenta.

    Finalmente, é o pomo da discórdia em churrascada da família com amigo de quem o pai é devedor e vira gatilho para o desenrolar da sequência que levará ao final do filme. Paira sobre tudo e todos, como a dizer que cada um tem de escolher o seu lado.

    Hugo (Marcello Novaes), o patriarca, escolhe o do autoengano e da dissimulação. Falido depois de especulações no mercado financeiro, com dívidas impagáveis, tenta sem sucesso esconder da mulher sua situação.

    Não consegue, e os dois se unem para tentar proteger da notícia os filhos criados em redoma de vidro, na casa de 1.400 m² de área construída, com piscina, Jacuzzi e quatro carros na garagem.

    Não vai dar. Há que cortar custos. O motorista é demitido, a empregada pede demissão, a governanta sai depois de um entrevero com a patroa, a Jacuzzi é desligada, discute-se se a casa deve ser posta à venda.

    Muda a vida dos filhos, a caçula surrupia dinheiro dos pais, o filho passa a andar de ônibus. E descobre a vida fora da gaiola de ouro.

    Barbosa, o cineasta, conhece bem tudo isso. Dedica o filme à família, que enfrentou situação semelhante à retratada em "Casa Grande".

    "Meu pai escondeu a falência enquanto pode, e eu fui o último a saber. Quando descobri, era tarde demais, eu já tinha entrado fundo no cartão de crédito, tive de pedir emprestado como todo o mundo", contou ele ao site Film Comment.

    E resume parte do sentimento que vemos na tela: "Quando eu era da idade de Jean, tinha um pouco de vergonha de ser rico".

    CASA GRANDE
    DIREÇÃO Fellipe Barbosa
    PRODUÇÃO Brasil, 2014, 12 anos
    MOSTRA seg. (27), às 14h, no Cine Livraria Cultura
    AVALIAÇÃO bom

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