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    Espectadores viram a noite para ver versão do diretor de 'Ninfomaníaca'

    ANGELA BOLDRINI
    DE SÃO PAULO

    27/10/2014 02h10

    "Está amanhecendo", anuncia o personagem Seligman, Stellan Skasgard, a Joe, Charlotte Gainsbourg, no fim de "Ninfomaníaca".

    Também amanhece quando os últimos espectadores saem do Caixa Belas Artes, uma estranha quantidade de gente sóbria para a rua da Consolação às 6h da manhã de um sábado.

    O Noitão começou às 23h50 e o público se amontoava nos corredores do cinema para assistir à primeira parte da versão sem cortes de "Ninfomaníaca", do diretor dinamarquês Lars von Trier.

    "Tinha ficado um pouco decepcionada", afirma Priscila Mororó, que já havia visto a primeira parte na versão censurada e aguentou passar as primeiras duas horas e meia de filme na escada.

    Apesar de ter chocado plateias por onde passou, houve quem, como Priscila, ficasse decepcionado com a falta de sexo explícito na versão comercial do filme, que conta a história de Joe, interpretada por Stacy Martin e Charlotte Gainsbourg, uma auto-diagnosticada ninfomaníaca.

    Nesse quesito, o corte de von Trier não deixa nada a desejar: às vezes, a sensação é de estar dentro de uma versão hipster do Cine Dom José, um dos "cinemões" pornôs do centro de São Paulo.

    Mas mesmo quem abandona o barco não parece incomodado com as cenas.

    "Não me incomodou", diz Diego Pignataro, que deixou a sessão no fim do volume um. "O sexo explícito faz entender melhor o ponto de vista do artista".

    Aline Cecile, 24, estudante de relações internacionais, que ficou até o final, concorda. "As pessoas vêm pelo sexo, mas não é disso que ele está tratando, é totalmente psicológico".

    Para Marianne Slot, produtora do longa, é exatamente essa a ideia. "A versão estendida é extremamente apreciada porque mostra o trabalho original do diretor e explora mais a fundo o assunto que ele queria tratar".

    A segunda parte, que começou a ser exibida às 2h50, estava bem mais vazia.

    Se antes a plateia ria com o humor negro de von Trier –a cena em que uma histérica Uma Thurman leva os filhos para conhecer a casa da amante do marido provocou gargalhadas– agora o clima começa a pesar.

    Duas horas depois, quando Joe já experimentou e abandonou o sadomasoquismo, chega o momento em que a plateia finalmente desvia os olhos da tela, chocada.

    A cena mais forte de "Ninfomaníaca" não tem nada a ver com sexo.

    Editada da versão comercial, a cena em que Gainsbourg faz um aborto em si própria no chão de sua cozinha é tão gráfica que há quem não tenha aguentado.

    Gabriela Bonfim, 22, estudante de ciências sociais, decidiu deixar o cinema. "Achei muito perturbador".

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