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    Crítica: Paulo Markun reúne o melhor da produção sobre a ditadura

    OSCAR PILAGALLO
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    01/11/2014 02h12

    No ano em que se completa meio século do golpe militar de 64, o jornalista Paulo Markun publica a mais abrangente história da ditadura em que o Brasil esteve mergulhado nas duas décadas seguintes.

    Editado em dois volumes, "Brado Retumbante" é o desdobramento de um projeto lançado em site homônimo há três anos, que reúne memórias de personagens que viveram o período.

    Os depoimentos, apesar de não contribuírem para uma nova perspectiva do regime de exceção, emprestam frescor à narrativa.

    Isaias Feitosa/CPDOC JB/Divulgação
    Comício das Diretas Já, com 70 mil na praça da Sé, em 1984
    Comício das Diretas Já, com 70 mil na praça da Sé, em 1984

    A maior qualidade da obra é a reunião criteriosa da melhor produção sobre a ditadura nos últimos anos, de reportagens a teses acadêmicas e biografias. São textos de mais fôlego, mas com um recorte mais específico.

    Para um trabalho que vale sobretudo pela grande síntese, no entanto, "Brado Retumbante" peca às vezes pelo detalhismo.

    A luta armada e a campanha a favor das eleições diretas, para citar dois exemplos, são temas tratados com minúcias que parecem excedentes num livro que pretende captar o todo. Pinceladas mais largas talvez propiciassem maior percepção do conjunto.

    A opção de privilegiar o factual em detrimento da análise também não ajuda na visualização do painel oferecido ao leitor. Embora a própria justaposição de fatos indique determinada visão dos acontecimentos, ela não chega a substituir a interpretação, que ficou confinada num pequeno capítulo.

    Nada disso, porém, diminui o interesse do relato. Ex-apresentador do "Roda Viva", da TV Cultura, autor de vários livros sobre história do Brasil e militante comunista durante a ditadura, Markun soube contar uma história que ele estudou e viveu.

    VLADO

    O jornalista aborda discretamente sua participação no combate ao regime militar, que o levou a ser preso em 1975, na mesma ocasião em que Vladimir Herzog, seu amigo e correligionário, foi morto pelas forças da repressão, assunto sobre o qual ele se debruçara em "Meu Querido Vlado".

    O fato de Markun conhecer por dentro o Partido Comunista é responsável por boas passagens de "Brado Retumbante". No primeiro volume, ele explica como o Partidão, considerado reformista, perdeu influência sobre jovens de esquerda que preferiram o radicalismo da luta armada.

    O Brado Retumbante
    Paulo Markun
    livro
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    No segundo, o autor mostra como a atitude conciliadora dos comunistas, que os levou a apostar que a ditadura acabaria com uma solução negociada, afastou o partido da campanha das Diretas.

    Num dos depoimentos mais reveladores, Alberto Goldman (na época deputado federal pelo PMDB e militante do PCB) nega a importância da campanha, com o argumento de que a realização de eleições diretas era inexorável.

    "Brado Retumbante" é uma boa porta de entrada para quem quiser conhecer melhor a história da ditadura militar.

    BRADO RETUMBANTE
    AUTOR Paulo Markun
    EDITORA Benvirá
    QUANTO Volume 1: R$ 37,90 (424 págs.). Volume 2: R$ 37,90 (480 págs.)
    AVALIAÇÃO bom

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