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    Réplica: Resenhista de 'Hosana na Sarjeta' não se redime no final

    MARCELO MIRISOLA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    01/11/2014 02h38

    Na ocasião do lançamento do "Charque", em 2011, nem precisei pedir direito de resposta. A editora da "Ilustrada" ligou para minha casa, desculpou-se e ofereceu o espaço para mim. Parece que virou tradição na Folha: alguém sempre vai aproveitar o cochilo do editor para me sacanear (espero que dessa vez não tenha sido o próprio editor). A essa altura do campeonato, pedir um pouco de respeito, isenção e profissionalismo já se tornou um pleonasmo. Tenho 16 livros publicados e mais o que fazer.

    Mas insisto. Profissionalismo, isenção e um pouco de respeito, é tão difícil assim?

    Faz um tempão, desde a época da famigerada Geração 90, que Luis Augusto Fischer faz "ressalvinhas" aos meus livros. Agora ele desqualifica o prólogo de "Hosana na Sarjeta" (leia crítica aqui ), e pergunta: "para que o começo?". Jura que o senhor quer saber, professor? Vamos lá. Sem começo, e aqui podemos generalizar para não perder a piada, não se chega a lugar algum... seria a mesma coisa se eu perguntasse: para que o começo de sua resenha se no final o senhor se desdiz?

    A ilha de Sumatra é uma alegoria, podia ser o bairro do Pari, em São Paulo. Um não-lugar, o lugar da literatura (constrangedor ter que dar a letra para um professor de literatura) que se explica por si mesmo e dá o tom ao resto do livro: não é à toa que essa ilha está inserida no "prólogo" —que o senhor chama de "começo". O livro também tem um epílogo, professor, sabe o que é isso?

    No epílogo, o prólogo se justifica e se "anula" (ou se desconstrói, para usar um termo caro à masturbação acadêmica).Uma leitura menos apressada é recomendável. A lógica agradece humildemente.

    "Mais do mesmo", professor? Nelson Rodrigues tinha esse defeito. Para que tanto incesto, adultério, as mesmas cunhadinhas, que horror... Borges (e a obsessão por espelhos e duplos, ele e Cortázar, mais dos mesmos ao quadrado), Thomas Bernhardt e sua blasfêmia circular infinita, Primo Levi também nunca saiu daquele enfadonho campo de concentração etc. etc.

    Agora, quem não se "redime" no final, ao contrário de "Hosana na Sarjeta", é o próprio resenhista que, para ser coerente com suas incoerências, devia ter classificado o romance como "péssimo". Mas aí deve ter faltado um pouco de coragem. Melhor dar um "bom" para não arriscar...não sei qual o nome disso na UFRGS, mas aqui de onde escrevo é "sorvete na testa".

    Outra: como é que um livro "errático", segundo a avaliação do professor, pode ter fluência e ritmo preciso? Dizer que a resenha se contradiz é elogio. A resenha do professor Fischer é uma piada. Para ilustrá-la nada melhor do que uma foto onde apareço em estado de transe epilético. Valeu, Folha. Até o próximo direito de resposta.

    MARCELO MIRISOLA é autor de "O Herói Devolvido" (34) e "Charque" (Barcarolla)

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