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    Irmão que nunca conheceu inspira novo livro de Chico Buarque

    JULIANA GRAGNANI
    DE SÃO PAULO
    RAQUEL COZER
    COLUNISTA DA FOLHA

    05/11/2014 02h43

    O conteúdo do novo romance de Chico Buarque, "O Irmão Alemão", será conhecido só no dia 14, mas pelo menos o título da obra é inspirado numa obsessão que acompanha o autor há quase 50 anos: a história de seu meio-irmão Sérgio Georg Ernst, a quem nunca conheceu.

    Foi na segunda metade dos anos 1960 que o compositor descobriu a existência do irmão, filho de seu pai, o historiador Sergio Buarque de Holanda (1902-1982), com Anne Margerithe Ernst, sua namorada quando viveu em Berlim, no final dos anos 1920.

    Sérgio Georg Ernst nasceu por volta de 1930, seis anos antes de Sergio Buarque de Holanda se casar, já no Brasil, com Maria Amélia de Carvalho Cesário Alvim, mãe de Chico e de seus seis irmãos.

    Reprodução/Youtube/Companhia das Letras
    Chico Buarque lê trecho de seu novo livro, 'O Irmão Alemão
    Chico Buarque lê trecho de seu novo livro, 'O Irmão Alemão'

    Quem revelou a Chico a existência do irmão foi o poeta Manuel Bandeira (1886-1968), amigo do historiador, durante visita de Chico, Tom e Vinicius à sua casa.

    "No meio de algumas lembranças ele mencionou aquele filho alemão'. Eu perguntei: Que filho?'. Eu não sabia que meu pai tinha tido um filho na Alemanha", contou Chico em 1994 à Folha.

    "Fiquei muito chocado e, quando pude ir a São Paulo, perguntei ao meu pai. No começo ele não quis falar, mas depois abriu o jogo", disse.

    A única vez que Sergio Buarque de Holanda teve notícias do filho foi na Segunda Guerra: a ex-namorada escreveu pedindo documentos que provassem que o menino não tinha ascendência judaica.

    Chico e seus irmãos sempre tentaram encontrar o meio-irmão, sem sucesso. A hipótese mais forte é que ele tenha morrido na guerra.

    "Sempre que ia à Alemanha, Chico olhava curioso para os rostos dos homens para ver se reconhecia em alguém os traços dos Buarque de Holanda", lembra Regina Zappa, biógrafa do compositor.

    É provável que Chico tenha aprofundado a pesquisa para escrever "O Irmão Alemão". "Cada vez que alguém ia para a Alemanha, chegava com alguma pista ou história. Mas quem descobriu mesmo foi o Chico", afirma a irmã Miúcha, que diz não saber "o quanto é ficção e o quanto é realidade" nessa descoberta.

    Isso pode ter sido mais relevante para o autor do que para o romance —que, afinal, trata-se mesmo de uma ficção.

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