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    Grupos cariocas desafiam a tradição praieira vendendo estilo urbano

    PEDRO DINIZ
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    07/11/2014 02h00

    Nelson Almeida/AFP
    Desfile da grife carioca Animale na São Paulo Fashion Week
    Desfile da grife carioca Animale na São Paulo Fashion Week

    A moda carioca ganhou projeção internacional com suas grifes de roupas de banho. No entanto, nos últimos seis anos, o viés praieiro deu lugar à criação de grupos formados por etiquetas que passam longe da areia.

    Para além de estampas tropicais e biquínis, marcas crescem em vendas e abrem mais lojas próprias pelo país.

    Um acontecimento importante nessa direção da moda carioca é a recente criação do conglomerado Soma, formado pelas grifes Animale e Farm, que têm juntas um faturamento anual de quase R$ 500 milhões.

    Roberto Jatahy, presidente da companhia, diz que outras quatro grifes deverão se juntar ao grupo. "Em razão do custo elevado de produção no país, pequenos fenômenos, marcas menores e estilistas de destaque acabarão se unindo", prevê.

    A moda produzida no Rio dentro desse contexto colaborativo somado ao poder do "lifestyle", próprio da cidade, pode ajudar a moda carioca a competir com grifes internacionais, aposta Marcelo Bastos, criador da Farm.

    Tanto a Farm quanto a Animale devem, até 2016, entrar no mercado internacional. Os EUA são o primeiro alvo dos negócios."O fundamental nesse processo é não levarmos os custos altos do Brasil para o consumidor estrangeiro", afirma Jatahy.

    Esse desejo de sair dos limites nacionais tem fundamento: as vendas externas do vestuário criado no Rio superam as das roupas paulistas.

    QUILO DE ROUPA

    Segundo dados da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), o quilo do vestuário feminino carioca, considerando vestidos, blusas e saias, valia em 2012 cerca de R$ 340 no mercado internacional.

    No mesmo ano, época do último levantamento, essas peças não estavam entre os tipos de vestuário mais exportados pelo mercado paulista, que, apesar de exportar R$ 20 milhões a mais em produtos de moda que o Rio, tem como carros-chefe aviamentos, lingerie e camisetas.

    A título de comparação, o quilo desses produtos paulistas vale em média R$ 150 no mercado internacional.

    Outro exemplo de como o Rio pouco a pouco sai da areia para entrar no asfalto é o grupo Reserva, do empresário Rony Meisler, que engloba a marca feminina Eva, a infantil Reserva Kids e a de camisetas UseHuck, criada em parceria com o apresentador de TV Luciano Huck.

    O grupo vem crescendo 37% ao ano. A média geral das grifes do seu segmento, o casual, é de 8%.

    "Não nascemos com o ideal de ser uma grife de alta moda, isso aproximou muita gente da marca", diz Meisler.

    Das vendas em multimarcas brasileiras –que correspondem a 20% do faturamento –à abertura de lojas próprias em shoppings pelo país, a Reserva agora investe em um mercado pouco conhecido entre as marcas nacionais: o de licenciamento de calçados em larga escala.

    O grupo desenvolveu por um ano 260 modelos, um número alto para os padrões de mercado, em parceria com a fábrica gaúcha Sugar Shoes.

    "As grifes brasileiras têm de começar a pensar nesse mercado como forma de expandir novos negócios e marcar território. Toda loja de sapatos dos EUA vende calçados das grifes importantes de lá. Aqui, são poucas as marcas que se dispõem a fazer isso", diz Meisler.

    Ele acrescenta: "Fala-se muito do esfacelamento da indústria têxtil nacional. Mas as grifes não se unem para tentar produzir aqui. Se nós, empresários, nos juntássemos para gerar demanda, os preços diminuiriam, a indústria nacional se fortaleceria e o consumo de produtos brasileiros aumentaria".

    O grupo hoje produz todo seu estoque no país e só compra matéria-prima nacional. A equação encontrada por Meisler faz o preço médio da camisa polo, campeã de vendas da marca Reserva, girar em torno de R$ 250. Uma peça similar custa cerca de R$ 400 em grifes de "jeanswear" que produzem fora do país.

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