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    Ferreira Gullar volta a ser artista visual com colagens em papel colorido

    SILAS MARTÍ
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    08/11/2014 02h00

    Na janela de seu apartamento em Copacabana, no Rio, Ferreira Gullar costuma pendurar móbiles que ele faz com papel colorido. Já viraram uma atração na rua.

    De tanto mexer com papéis, o artista e poeta, que é colunista da Folha, descobriu por acaso o que ele chama de "revelação do avesso".

    "Um dia, estava recortando papel verde para fazer uma espiral, mas a folha virou e o outro lado era cinza", conta Gullar. "Colei daquele jeito mesmo. Era o direito e o avesso. Quando olhei aquilo, pensei que podia inventar outras colagens em relevo."

    Essas colagens, que depois foram refeitas em metal tão fino quanto papel, estão sendo editadas agora para acompanhar um livro de artista e serão expostas na semana que vem na galeria Dan, em São Paulo, marcando uma espécie de retorno às artes visuais do fundador do movimento neoconcreto.

    Em 1959, Gullar escreveu o manifesto que estruturou a mais forte das vanguardas estéticas no Brasil, liderando artistas como Hélio Oiticica (1937-80) e Lygia Clark (1920-1988), hoje estrelas da arte do país em mostras mundo afora.

    Mas Gullar, que acaba de entrar para a Academia Brasileira de Letras, foi se afastando das artes plásticas e se tornou um dos críticos mais ferrenhos e conservadores da produção artística contemporânea.

    "É claro que algumas coisas são interessantes, mas a maioria não é. Ninguém vai me convencer que pegar três urubus e botar numa gaiola é fazer arte", diz Gullar, sobre a polêmica obra de Nuno Ramos na Bienal de São Paulo há quatro anos. "Isso não é arte, é uma antiarte."

    Também é famosa a briga de Gullar com o poeta concretista Augusto de Campos e sua ruptura radical com os experimentos da arte concreta surgida em São Paulo, uma divisão que ele parece defender até os dias de hoje.

    "Em São Paulo, eles insistiam num rigor cerebral exagerado, radical. Chegaram a propor o fim da cor na pintura", diz Gullar. "Não vou assinar embaixo dessa tolice só para ser vanguardista."

    Gullar, aliás, chama a arte contemporânea de "arte caninha 51", ou seja, algo que não passa de uma boa ideia.

    Mesmo desiludido, o escritor conta que decidiu voltar ao campo da arte por insistência de amigos que iam a sua casa e ficavam impressionados com suas colagens.

    Uma série delas acabou dando origem a "Zoologia Bizarra", livro lançado em 2010 em que Gullar criou imagens de bichos com recortes de papel colados sobre desenhos.

    Quatro anos depois, sua nova série vem num momento em que ele mudou de atitude, lembrando que aceitou se candidatar a uma vaga na ABL depois de anos de pedidos de seus amigos imortais.

    "Entrar para a Academia nunca fez parte do meu projeto de vida, e fiz essas colagens só pelo prazer de fazer", diz Gullar. "Mas depois de longo tempo achei que era hora de parar de dizer não."

    FERREIRA GULLAR
    QUANDO abre em 13/11; de seg. a sex., das 10h às 18h; sáb., das 10h às 13h; até 6/12
    ONDE galeria Dan, r. Estados Unidos, 1.638, tel. (11) 3083-4600
    QUANTO grátis

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