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    Criolo volta a misturar ritmos e a destilar sua verve original

    THALES DE MENEZES
    EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

    11/11/2014 02h00

    O paulistano Criolo, 39, lança o álbum "Convoque Seu Buda", sucessor de "Nó na Orelha" (2011), um dos discos mais elogiados dos últimos anos. Indagado sobre o desafio de repetir a mesma repercussão, o rapper sorri.

    "Vou falar sobre desafio. Os meus pais, quando saíram do Ceará para vir pra cá, em 73, 74... Minha mãe parece um lírio, linda, e meu pai, um negro maravilhoso, o rei de alguma nação africana. Não queriam que minha mãe namorasse um negro, que diria casar. Aí vieram para cá, meu pai metalúrgico, minha mãe dona de casa, e foram morar num porão. Isso é desafio, cara."

    Criolo prossegue, com seu jeito pausado de falar. "Botar na cabeça que, se for para ter filho, não quero meu filho sofrendo. Se ali tem algo que possa dar uma vida melhor, vamos. Isso é desafio. Fazer um outro disco, para mim, é a celebração de entender que a música e as artes nos oferecem outras possibilidades."

    Em mais de uma hora de entrevista à Folha, Criolo –que no começo da carreira era Criolo Doido– falou várias vezes, com carinho, dos pais e do Grajaú, bairro da zona sul paulistana onde nasceu.

    "Sou do Grajaú e estou agora próximo à cracolândia, na região da Santa Efigênia, até pela logística de organizar o trabalho. Minha felicidade é estar no Grajaú. Lar é onde você é feliz, né?" Ele diz que gosta de ficar em casa, com os pais, e de encontrar os amigos do pagode, "grandes compositores e turma de infância". "Vida simples, cara", define.

    Convoque Seu Buda
    Criolo
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    Afirma quase não sair de casa, mas considera algumas coisas imperdíveis. "Como assistir a um show do Elo da Corrente, um grupo de rap maravilhoso. Na Virada Cultura, fui assistir ao show da Célia. Poxa, que felicidade!"

    INGRESSOS ESGOTADOS

    "Convoque Seu Buda", feito novamente com os produtores Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral, será lançado em quatro shows no Sesc Vila Mariana, a partir de quinta (13), com ingressos esgotados em poucos minutos de venda.

    O disco traz sua mistura de rap com samba, reggae e outros ritmos pop. Tem algumas faixas, como "Casa de Papel e "Cartão de Visita", com chances de repetir o sucesso de "Não Existe Amor em SP", destaque do álbum anterior.

    "Sou um ignorante musical, não estudei, o que tenho de música veio dos discos que meus pais escutavam em casa, de rádio AM e de tema de novela. É isso que o brasileiro tinha na década de 80 quando você tinha aquela televisãozinha de seletor, 12 polegadas, preto e branco, naquele plasticão que era laranja ou azul, e só pegava três canais."

    Quando ele explica a criação recente de uma faixa, "Pão Murcho", mais uma vez fala dos pais. Estava na casa deles, dormindo em um colchão no chão da sala. Era ainda de madrugada e a mãe voltou da padaria sem pão, porque manifestações tinham parado o trânsito na região.

    Ela o cutucou com um chute no colchão e disse: "Olha, você vai comer pão murcho hoje, porque o padeiro não pôde trabalhar, e eu não vou conseguir ir ao médico. Você vai ter que fazer um samba disso". E foi pra cozinha.

    Antes do meio-dia a canção estava pronta. "Mãe pede, a gente tem de se esforçar", observa Criolo.

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