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    Leia poemas de Manoel de Barros, morto nesta quinta aos 97 anos

    DE SÃO PAULO

    13/11/2014 15h06

    O poeta mato-grossense Manoel de Barros morreu nesta quinta-feira (13), aos 97 anos, em um hospital de Campo Grande.

    Nascido em 1916 em Cuiabá, Manoel de Barros escreveu 18 livros de poesia, além de obras infantis e relatos autobiográficos. Recebeu diversos prêmios literários, entre os quais dois Jabutis —em 1989, com "O Guardador de Águas", e em 2002, com "O Fazedor do Amanhecer".

    Barros estava internado havia mais de uma semana na UTI do hospital Proncor e tinha passado por uma cirurgia de desobstrução do intestino. Segundo o hospital, ele morreu de falência de múltiplos órgãos.

    Conheça, abaixo, um pouco de sua obra:

    Tratado geral das grandezas do ínfimo

    A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei.
    Meu fado é o de não saber quase tudo.
    Sobre o nada eu tenho profundidades.
    Não tenho conexões com a realidade.
    Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
    Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
    Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
    Fiquei emocionado.
    Sou fraco para elogios.

    De "O Livro dss Ignorãnças":

    No descomeço era o verbo.
    Só depois que veio o delírio do verbo.
    O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.

    A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
    Para a cor, mas para o som.
    Então se a criança muda a função de um verbo, ele
    delira.
    E pois.
    Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer nascimentos -
    O verbo tem que pegar delírio.

    Do livro "Menino do Mato":

    Eu queria ser banhado por um rio como
    um sítio é.
    Como as árvores são.
    Como as pedras são.
    Eu fosse inventado de ter uma garça e outros
    pássaros em minhas árvores.
    Eu fosse inventado como as pedrinhas e as rãs
    em minhas areias.
    Eu escorresse desembestado sobre as grotas
    e pelos cerrados como os rios.
    Sem conhecer nem os rumos como os
    andarilhos.
    Livre, livre é quem não tem rumo.

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