No dia 31 de outubro, às 6h39 da manhã, o ator Leo Bahia, 23, escreveu em seu perfil no Facebook: "Chacrinha me domina/ Chacrinha me alucina/ Estudo meu textinho/ Às cinco da matina".

Disciplinado, envolvido, abismado. Assim parece o momento atual de Bahia, promessa do teatro musical que vive o apresentador quando jovem em "Chacrinha, O Musical". A montagem estreia nesta sexta (14) no Rio. Em São Paulo, a temporada deve começar em março.

A biografia musical cobre desde a infância do apresentador no agreste pernambucano até a descoberta da paixão pelo rádio e a mudança para o Rio. Stepan Nercessian, 60, assume o personagem no segundo ato, que narra sua carreira na TV.

	Marco Antonio Cavalvalcanti/UOL
	Renan Mattos, como Ney Matogrosso, e Stepan Nercessian, como Chacrinha, em cena do musical

O papel coroa um ano especial para Bahia. Revelado numa montagem universitária do musical americano "The Book of Mormon", sucesso de público e de crítica no Rio, teve sua primeira grande atuação profissional em "Ópera do Malandro" dirigida por João Falcão, em que todos os papéis femininos eram feitos por homens.

"Um dia me vi saindo do Theatro Municipal, onde exibimos o Ópera', e a caminho da Cidade das Artes para uma apresentação do Mormon'. Lembro de estar no carro e pensar: 2014 é isso mesmo?' Do Municipal à Cidade das Artes?", diz Bahia.

A montagem de "Ópera" foi uma das mais elogiadas da temporada –até por Chico Buarque, autor do texto, que num comentário em sua página no Facebook descreveu Bahia como um "jovem de excepcional talento".

"Acho que o Leo vai estourar. Canta muito bem e é um ator sutil, tem muita naturalidade", diz Andrucha Waddington, diretor de "Chacrinha". No ensaio, ele mostra um estilo de gestos comedidos. O canto é afinado, mas num tom baixo, sem floreios.

Segundo Waddington, Bahia é muito concentrado, observador e estudioso. "Chacrinha tinha um jeito nasalado de falar que é difícil de reproduzir. Leo disse, preciso de uns dias para chegar lá', e chegou. Ele começa muito neutro e vai construindo as camadas do personagem."

	Lucas Figueiredo/Folhapress
	O ator Leo Bahia em sua casa, no Flamengo, no Rio

"Acho que tenho, sim, um estilo meu [de atuação]. Não sei dizer o que é. Só quero que seja verdadeiro", diz ele, e dá uma risadinha tímida que repete ao longo da entrevista, principalmente quando fala de dinheiro e sucesso.

"Acho que estou fazendo um bom trabalho. Mas o que é o sucesso? Hoje estou empregado, mas amanhã posso não estar. É de temporada", afirma o ator, que diz que ainda vive sob as asas dos pais.

Filho de um produtor musical e de uma psicóloga formada em teatro, o ator niteroiense achou, até os 18 anos, que não dava para as artes. Queria medicina, mas não conseguiu. Enquanto estudava, começou a fazer aula de canto, incentivado pelos pais.

Bahia é cria do curso de graduação em canto da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e do projeto de pesquisa em teatro musical do professor Rubens Lima Junior.

João Falcão, diretor de "Ópera", conta que Leo fez audição no final do processo de seleção, sem que o diretor o conhecesse. "No primeiro momento, já ganhou todo mundo. Talento como o dele, quando aparece, é impossível não notar", diz o diretor.

Leo fala com entusiasmo sobre o futuro: "Foi tudo tão rápido. Não tive tempo de parar para pensar. E espero continuar sem ter tempo".

CHACRINHA, O MUSICAL
QUANDO qui. e dom., 19h; sex., 20h; sáb., 16h e 20h; até 1º/3
ONDE teatro João Caetano, pça. Tiradentes, s/nº, Rio, tel. (21) 2332-9257
QUANTO de R$ 50 a R$ 120
CLASSIFICAÇÃO 12 anos