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    Novo filme amplia espectro de Gabriel Mascaro sem deixar a política

    PEDRO BUTCHER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    16/11/2014 02h05

    É notória a comparação de John Ford (1894-1973) entre cineastas e autores: "Se o diretor é um criador, está mais para um arquiteto, que concebe plantas de acordo com circunstâncias muito precisas".

    Se um filme é uma construção sujeita a influências externas, "Ventos de Agosto" é um edifício erguido entre pilares e lacunas. Uma obra arejada, espaçosa, que permite a circulação do ar e de ideias.

    O filme representa um movimento interessante na trajetória de Gabriel Mascaro, que se guiava por uma agenda política predeterminada.

    Essa abertura enriquece "Ventos..." sem esvaziá-lo de força política. Está, sobretudo, em lançar olhar sobre cenários e personagens abandonados do "Brasil gigante".

    Tudo se passa em uma aldeia de pescadores em Alagoas, onde vivem Jeison (Geová Manoel dos Santos) e Shirley (Dandara de Morais), que está ali contra a sua vontade. Certo dia, Jeison encontra uma caveira. Pouco depois, brota do mar um cadáver em decomposição avançada.

    O filme incorpora à sua forma os dilemas de sua questão central (a consciência da morte, o vazio), quebrando com ironia e afastamento os momentos em que se aproxima de um sentimentalismo.

    A questão, aqui, é saber se o flerte com o cinismo é de fato olhar do diretor ou expressão de um medo de se atirar nos caminhos arriscados apontados pelo próprio filme.

    VENTOS DE AGOSTO
    DIREÇÃO Gabriel Mascaro
    PRODUÇÃO Brasil, 2014, 14 anos
    AVALIAÇÃO ótimo

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