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    Para irmão de Chico Buarque, pai era apenas um rapaz latino-americano

    ROBERTA CAMPASSI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BERLIM

    15/11/2014 02h04

    Na vida real, a busca de Chico Buarque por seu meio-irmão nascido na Alemanha, em 1930, tem elementos de uma história detetivesca, das pistas falsas e documentos guardados no fundo do baú às coincidências fortuitas e alguma dose de sorte.

    Chico procurou durante décadas pelo nome de batismo do parente, Sergio Ernst, mas a ausência de ocorrências do nome na Alemanha levantava a suspeita de que ele tivesse morrido na Segunda Guerra Mundial.

    Segundo a Companhia das Letras, editora de "O Irmão Alemão", a busca só ganhou novos rumos no início do ano passado, quando Chico teve acesso a cartas da década de 1930 endereçadas pelo governo alemão a seu pai, Sérgio Buarque de Holanda, e preservadas por sua mãe, Maria Amelia Buarque de Holanda.

    Nos documentos, os alemães informavam que Sergio Ernst estava sob a guarda do Estado e, em pleno regime nazista, solicitavam documentos que comprovassem a origem "ariana" da criança para que pudesse ser adotada por um casal de sobrenome Günther, residente à rua Greifswalder, no noroeste de Berlim.

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    Sergio Günther, o irmão alemão de Chico Buarque, em programa de TV, 'Berlin Original', em 1978
    Sergio Günther, o irmão alemão de Chico Buarque, em programa de TV, 'Berlin Original', em 1978

    A partir daí, o historiador brasileiro João Klug e o museólogo alemão Dieter Lange foram contratados pela Companhia das Letras, por intermédio do historiador brasileiro Sidney Chalhoub, para aprofundar a investigação.

    Lange conta que o primeiro passo foi buscar na Alemanha algum Sergio que tivesse o mesmo sobrenome dos pais adotivos, e assim chegou, em abril de 2013, a Sergio Günther, jornalista, cantor e apresentador de TV berlinense famoso na década de 1970 na antiga República Democrática Alemã, a Alemanha Oriental.

    Por coincidência, logo após a descoberta, Lange encontrou-se em um bar de Berlim com dois velhos amigos seus, o tradutor Manfred Schmitz e o jornalista Werner Reinhardt, e perguntou ao acaso: "Vocês o conheceram?".

    "Claro, eu vivia no mesmo prédio que ele", disse Reinhardt. Eles haviam se conhecido em 1969 e sido amigos próximos até a morte de Günther, em 1981, devido a um câncer de pulmão.

    A data de nascimento do jornalista, 21 de dezembro de 1930, batia com a do procurado. A certeza veio com a confirmação de que Sergio Günther dizia que seu pai era "um jornalista da América do Sul", segundo Reinhardt.

    Na ocasião, Sérgio Buarque estava em Berlim como correspondente de "O Jornal", de Assis Chateaubriand.

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    Em maio de 2013, logo após a descoberta, Chico foi a Berlim com a filha Silvia visitar os amigos e parentes do irmão e colher informações.

    Há quatro meses, foi a vez de a família Buarque receber no Rio a filha de Günther, Kerstin Prügel, e a neta, Josepha. "Passeamos, fomos na casa de Chico, a Paquetá, fizemos muita farra", conta Maria do Carmo, irmã de Chico.

    "Elas levaram um susto quando começaram a descobrir uma família que não acabava mais", diz Ana de Holanda, também irmã, em referência aos sete filhos, 14 netos e 16 brasileiros de Sergio Buarque.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Lydia Megumi/Editoria de Arte/Folhapress

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