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    Crítica: Filme escancara chacinas sem discutir saídas para problema

    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    19/11/2014 02h29

    As imagens são fortes. Corpos ensanguentados tomam conta das vielas das favelas. Ao redor, dor e protesto. Mães desesperadas, famílias destroçadas. Impunidade, corrupção, impotência.

    A rotina das chacinas no Rio é o foco da cineasta Theresa Jessouroun em "À Queima Roupa". Ao exibir a sequência de assassinatos, o filme faz uma contundente denúncia da polícia que virou bandida.

    O início da narrativa é a chacina de Vigário Geral, em 1993, que deixou 21 mortos e cuja autoria é atribuída a um grupo de policiais. A fita vai expondo uma sequência de casos em que a morte é banalizada e a corrupção policial ganha dimensões horripilantes.

    Divulgação
    Cena de 'À Queima Roupa', que mostra imagens fortes de crimes cometidos pela polícia
    Cena de 'À Queima Roupa', que mostra imagens fortes de crimes cometidos pela polícia

    ÚLTIMA VEZ

    Os relatos das famílias são dramáticos. Mães contam o que lembram da última vez em que viram seus filhos. "Ele usava terno, não era ladrão", desabafa uma delas.

    Do outro lado, um informante da polícia fala dos falsos autos de resistência, das simulações de apreensão de drogas, dos locais de desova dos assassinados.

    Segundo o depoimento do advogado João Tancredo, um dos entrevistados, todas as chacinas que ocorreram nos últimos anos tiveram participação da polícia. E o Brasil é o campeão mundial de mortes em operações policiais.

    Cortante, o filme não entra na discussão de saídas. Escancara uma realidade terrível, que pouco mudou de Vigário Geral para cá.

    Do início ao fim, o documentário mostra cidadãos protestando. Isso também não mudou. Para os mais pobres, a violência faz vigorar a pena de morte. Não permite descanso ou acomodação.

    À QUEIMA ROUPA
    DIREÇÃO Theresa Jessouroun
    PRODUÇÃO Brasil, 2014, 16 anos
    AVALIAÇÃO bom

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