Pela primeira vez no Brasil, a banda de indie rock Real Estate, que se apresenta em São Paulo nesta quinta (20) e em Porto Alegre na sexta (21), tem a missão de mostrar outro lado de Nova Jersey.
Quando se pensa na representação desse pequeno Estado americano na cultura pop, duas figuras barulhentas vêm à mente: Bruce Springsteen e seu rock de arena e Tony Soprano, o mafioso ficcional interpretado por James Gandolfini na série de TV da HBO.
Por isso, o rock de pouca distorção, límpido e bastante tranquilo do Real Estate pode surpreender quando se sabe que a origem dele é a mesma desses nomes.
"Somos fãs tanto de Springsteen quanto de 'Família Soprano'", diz o vocalista Martin Courtney, em entrevista por telefone.
| Reprodução/realestatetheband.com | ||
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| Banda Real Estate, que vai se apresentar no Beco 2013 em São Paulo e Porto Alegre |
"A série me lembra até a família da minha mãe, que é descendente de italianos", diz, numa voz jocosa e tímida.
Atualmente, ele vive em Nova York, a poucos quilômetros do Estado.
"Acho que somos sim bastante 'Nova Jersey' em nosso som. Crescemos naqueles subúrbios."
Mas o som do quinteto está muito mais para a timidez de Courtney do que para as explosões de Springsteen ou Tony.
Completam o grupo o guitarrista Matt Mondanile (conhecido por seu trabalho com o Ducktails), o baixista Alex Bleeker, o baterista Jackson Pollis e o tecladista Matt Kallman, que chegou justamente na gravação do disco mais recente, "Atlas".
Lançado em março, o terceiro álbum do Real Estate foi aclamado pela crítica, ainda mais que seu antecessor, "Days", de 2011.
Na exigente revista de música alternativa "Pitchfork", por exemplo, a obra recebeu uma nota 8,8, superando o anterior em um décimo.
Além disso, ganhou um selo de "best new music" ("melhores músicas novas"), o que abre caminho para que ele esteja na lista da publicação de melhores discos do ano.
"É claro que estou orgulhoso do álbum, mas não sei o quanto se pode levar em consideração esse tipo de coisa. Quer dizer, o que faz 'Atlas' ser um ponto melhor ou pior que 'Days'?", questiona o cantor.
Mesmo assim, os elogios impressionam. Para o jornal britânico "The Guardian", é um disco "que demonstra maturidade", enquanto a revista americana "Rolling Stone" compara a música "The Bend" a algo que o Pink Floyd gravaria.
"Acho que causamos uma impressão diferente nas pessoas porque nossa música está fora de moda, lembra algo de 20 ou 30 anos atrás", conta Martin. "Mas isso acontece naturalmente, é o tipo de música que sabemos fazer."
SOM BRASILEIRO
Sobre "The Bend", essa é uma música que pode soar familiar para ouvintes brasileiros. Seus acordes de introdução lembram bastante uma canção de bossa nova.
"Uau, nunca ouvi essa comparação antes", diz o cantor, após a reportagem lhe relatar a semelhança. "Mas sim, consigo entender de onde você tirou isso. Bossa nova é com certeza uma de nossas influências."
O disco tem outros destaques, como a balada pop "Talking Backwards", sobre a falta de comunicação num relacionamento, e a instrumental "April's Song", uma espécie de trilha sonora para uma tarde ensolarada.
Mas uma boa pedida para se situar quanto ao estilo de rock do Real Estate é a versão que o grupo fez em agosto de "Linger", hit de 1993 do Cranberries.
A iniciativa partiu do site de entretenimento "A.V. Club", que convida bandas a tocarem hits do passado e disponibiliza essas releituras em vídeo na internet.
"Eles tinham uma lista de músicas que a gente podia escolher. Não me lembro porque decidimos por 'Linger', mas a experiência foi muito bacana. Fora que a música é muito fácil."
A versão, que pode ser vista aqui, casou com a voz de Courtney e com os riffs de Mondanile de tal maneira que poderia passar tranquilamente como uma canção do próprio Real Estate.
REAL ESTATE NO BRASIL
QUANDO dia 20, em São Paulo, e dia 21, em Porto Alegre
ONDE em São Paulo, no Beco 203 (r. Augusta, 609); em Porto Alegre, no Beco 203 (av. Independência, 936)
QUANTO em São Paulo, R$ 100; em Porto Alegre, R$ 50
(O terceiro show que a banda faria no Brasil, no Rio, foi cancelado na semana passada por "problemas de logística")