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    Cine Marrocos abriga 450 famílias no centro

    DANILA MOURA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    23/11/2014 02h05

    A aristocracia paulistana da década de 1950 ficaria impressionada com os atuais frequentadores do Cine Marrocos. Projetado pelo arquiteto João Bernardes Ribeiro e pelo engenheiro Nelson Scuracchi, o estabelecimento inaugurado em 1952 era o "mais luxuoso cinema da América do Sul".

    Ocupado pelo MSTS (Movimento Sem-Teto de São Paulo) em novembro de 2013, o prédio abriga 450 famílias por seus 13 andares em apartamentos improvisados.

    O portentoso hall virou ponto de modernos, universitários, hippies e quem quiser uma noitada sem frescuras.

    Desde junho, o cinema inspirado no clássico "Mil e Uma Noites" recebe festas. A renda é compartilhada entre os organizadores e o MSTS, que a usa em reparos.

    Os visitantes são recebidos por afrescos mouriscos, paredes grafitadas e uma barraquinha de móveis usados. A bilheteria vira caixa de bar com máquina de cartão. Para subir até a pista de dança, no primeiro andar, é possível ir de elevador com ascensorista.

    Nos corredores dos apartamentos, ouve-se uma mistura de idiomas latinos, africanos e gente falando inglês. Turbantes coloridos, lenços africanos, artesanato peruano. Price Winfred, de Uganda, estava radiante. "Quero ficar de vez", disse, em inglês.

    Anúncios nas paredes oferecem excursões no Réveillon, serviço de manicure, recarga de celular e até aulas grátis de idiomas.

    O imóvel é da Secretaria Municipal de Educação, que está com processo de reintegração em andamento. É planejada a construção de instalações da secretaria no local.

    'RAVETALIZAÇÃO'

    "Eu me identifico com o movimento dos sem-teto, de ocupar espaços ociosos", diz o DJ Paulo Tessuto, responsável pela Carlos Capslock, festa feita em locais abandonados e pioneira no Marrocos. "Colocamos dois mundos em contato, os frequentadores conhecem outra realidade."

    "Nos anos 1960, os marginais' correram para a Boca do Lixo para escapar da cultura de rabo-preso. Hoje, vamos à região da cracolândia por enxergarmos a potencialidade artística desse espaço abandonado", analisam Laura Diaz e Carol Schutzer, mentoras da Mamba Negra, festa cativa do local, além da Voodoohop e Sonido Trópico.

    As festas no Cine Marrocos e nas ruas é tema do filme "O que É Nosso "" Reclaiming the Jungle", que estreia na web dia 27 de novembro, dos fotógrafos Jezmo Clode, Murilo Yamanaka e Allyson Allapont.

    Wladimir Brito, secretário-geral do MSTS, vê positivamente o intercâmbio com os coletivos, que atraem artistas voluntários.

    "A Capslock arrecadou 354 quilos de alimentos, as famílias agradecem", conta. O diferencial da pista do Marrocos é o gostinho de aventura e engajamento da noite paulistana.

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