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    Crítica: Ron Mueck foge do pedantismo da arte conceitual

    VIVIAN MOCELLIN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    22/11/2014 12h00

    Enquanto a galeria White Cube exibe a primeira individual do artista celebridade Damien Hirst no país, a Pinacoteca abre a exposição do escultor hiper-realista Ron Mueck. Poucos lembram, mas a trajetórias de ambos começou no mesmo lugar: a Royal Academy of London, com a polêmica exibição "Sensation" que lançou para o mundo o movimento conhecido como Young British Artists.

    Se por proveniência Ron Mueck era então considerado um YBA, os anos seguintes iriam provar que sua filiação ao movimento era puramente incidental. Em comum com o grupo apenas o fato de trazer a morte como tema central de sua obra.

    Por outro lado, os YBAs são parte do movimento conceitual, que acredita que a ideia é mais importante que a execução, e que habilidades técnicas são irrelevantes. Na obra de Ron Mueck, no entanto, tudo sempre foi execução, técnica e forma.

    Na contramão da produção artística de seu tempo, ele insistiu na verossimilhança e hiper-realismo. Sempre com escalas modificadas - gigantescas ou minúsculas, suas esculturas impressionam não somente pela riqueza de detalhes, mas por possuírem um "algo a mais", uma espécie de aura que sugere vida própria.

    Causam estranhamento, mas também empatia, levando o público a especular sobre suas historias. O significado da obra se forma então na imaginação do observador, a partir de uma espécie de "vazio conceitual" deixado pelo artista, que permite o estabelecimento de narrativas e de uma relação emocional entre a obra e o público que nela se reconhece.

    Mas em uma cena artística que se esforça para representar visualmente conceitos abstratos, um artista que privilegia a dimensão emocional da existência só poderia ser considerado populista e raso. Apesar das críticas, suas exibições são sucesso no mundo inteiro, levando ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro mais de 200 mil pessoas - um público há muito não visto na instituição.

    Em um país onde a grande maioria das pessoas não domina a linguagem artística necessária para apreciar a arte, exibições como essa tem o mérito de trazer para instituições um público que de outra forma permaneceria alienado. Oferecem ainda ao público cativo da arte conceitual - e aqui eu me incluo, a chance de dar um tempo a um intelectualismo muitas vezes pedante e forçado, e quem sabe até se divertir um pouco no processo.

    Afinal, Ron Mueck oferece muito mais para ver e sentir do que Damien Hirst para pensar.

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