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    Crítica: Em 'Boa Sorte', diretora conta boa história sem retomar temas

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    27/11/2014 02h00

    Rapaz encontra garota. O ponto de partida quase tão velho quanto o mundo funciona como um desafio enfrentado com entusiasmo por Carolina Jabor em sua estreia em longa de ficção.

    Como lançar um ponto de vista que não pareça tão gasto sobre uma história de amor? Conceber um par formado por dois seres de exceção pode parecer uma solução.

    É o que faz "Boa Sorte" ao aproximar João e Judite. Ele é um jovem depressivo que os pais internam numa clínica psiquiátrica. Ela está lá para se livrar da dependência de drogas e encontra-se num beco sem saída por ser portadora de HIV e seu organismo não assimilar o tratamento.

    Divulgação
    A atriz Deborah Secco em cena de 'Boa Sorte', de Carolina Jabor
    A atriz Deborah Secco em cena de 'Boa Sorte', de Carolina Jabor

    No entanto, este amor valorizado pela fatalidade não deixa de reproduzir a velha chantagem melodramática que inunda os cinemas com público e lágrimas. A estratégia bem-sucedida, neste caso, é encarar o óbvio em busca de alternativas, driblar o sentimentalismo com ironia.

    No filme, a diretora —que tem o roteiro de Jorge e Pedro Furtado a seu favor– utiliza movimentos de câmera que acompanham a transição emocional dos personagens, fluindo e elevando-se, reinventando o espaço da clínica, que passa de prisão a palco de teatro e picadeiro.

    Assim, "Boa Sorte" evita retomar temas já vistos em "Bicho de Sete Cabeças" ou em "O Lado Bom da Vida" e nos dispensa de um cinema que depende demais do discurso e de boas intenções.

    Estas estratégias poderiam ficar no plano da abstração caso o filme não tivesse encontrado em João Pedro Zappa e Deborah Secco intérpretes dispostos à contenção, quando a ênfase poderia ser uma tentação para os atores.

    Mesmo que se possa ver no resultado um excesso de controle ou de cálculo, não deixa de ser vantajoso para um cinema tão sem público que uma diretora estreante se dedique antes a contar bem uma história em vez de exibir para uma meia dúzia de pessoas a potência de seu estilo.

    BOA SORTE
    DIREÇÃO Carolina Jabor
    ELENCO Deborah Secco, Fernanda Montenegro, João Pedro Zappa
    PRODUÇÃO Brasil, 2014, 16 anos
    AVALIAÇÃO bom

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