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    Crítica: Roteiro fatiado tira o brilho da vida de beata Irmã Dulce

    ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    27/11/2014 02h27

    A maior dificuldade desta cinebiografia "Irmã Dulce" foi condensar em uma hora e meia de filme os 60 anos de intensa ação social da religiosa.

    Nascida em Salvador, beatificada pelo Vaticano em 2011 e com processo de canonização em andamento, Irmã Dulce (1914-1992) dedicou a vida a assistir os desvalidos, sendo conhecida internacionalmente.

    A primeira parte do longa mostra a juventude da freira, interpretada por Bianca Comparato —a atriz compôs uma personagem convincente, dos gestos ao sotaque, passando pela fragilidade física.

    São apresentados alguns fatos menos conhecidos de sua trajetória nessa fase. Também ganham destaque os embates com a hierarquia da Igreja Católica, que desaprovava as ações da religiosa.

    Divulgação
    Bianca Comparato vive a beata na primeira fase do longa
    Bianca Comparato vive a beata na primeira fase do longa

    Porém, várias iniciativas importantes de Irmã Dulce —como a fundação da União Operária São Francisco, do Círculo Operário da Bahia e do colégio Santo Antônio, todas realizadas nos anos 1930— passam em branco.

    Na segunda parte, que vai da maturidade até a morte, a personagem é encarnada por Regina Braga, que não tem o sotaque e a compleição física da antecessora.

    Além disso, alguns personagens da primeira parte são vividos pelos mesmos atores na segunda, como a madre superiora. Esses desacertos criam um descompasso danoso à verossimilhança.

    SALTOS

    Nessa etapa, a história avança na base de grandes saltos temporais, prejudicando a articulação dos fatos. Tudo se acelera, muitos momentos relevantes ficam de fora, a narrativa perde força.

    A ênfase fica em dois episódios conhecidos: a ocupação de um galinheiro dentro do Convento de Santo Antônio para acolher doentes sem recursos –que será o embrião do hospital Santo Antônio, um dos mais importantes de Salvador– e o encontro com o papa João Paulo 2º.

    Se não tiram o carisma da personagem, os desequilíbrios do roteiro impedem que o filme apresente uma Irmã Dulce mais rica em matizes e uma trajetória mais rica em detalhes.

    IRMÃ DULCE
    DIREÇÃO Vicente Amorim
    ELENCO Bianca Comparato, Regina Braga, Lisandro Oliveira
    PRODUÇÃO Brasil, 2014, 10 anos
    AVALIAÇÃO regular

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