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    Livro resgata batalhas pelo Mediterrâneo

    DIOGO BERCITO
    EM MADRI

    29/11/2014 02h39

    A história, como uma mãe justa, talvez nunca admita que alguns de seus períodos são mais interessantes do que outros. Mas leitores quiçá possam concordar, em alguma medida, que determinados momentos históricos parecem ter sido criados mais como um roteiro de cinema.

    É o caso da disputa naval entre os impérios Espanhol e Otomano pelo domínio do Mediterrâneo, no início da Era Moderna, com personagens lendários como o pirata Barba Ruiva e batalhas épicas como a de Lepanto (1571).

    Essa história, repleta de naufrágios e dramáticos cercos a fortalezas, é narrada pelo historiador britânico Roger Crowley, 63, no livro "Impérios do Mar", lançado no Brasil pela Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha.

    Crowley tem um interesse já antigo por essa região. Ele já é autor de uma obra sobre Constantinopla (hoje Istambul, na Turquia) e de outra sobre Veneza.

    Reprodução
    Pinturas da Batalha de Lepanto, de H.Letter (1571), entre Veneza, Roma, Espanha e Turquia
    Pinturas da Batalha de Lepanto, de H.Letter (1571), entre Veneza, Roma, Espanha e Turquia

    Ainda assim, ele diz à Folha que o tempo, mais do que o espaço, é que garante a narrativa: era "época de grandes impérios e ambições".

    Por exemplo, o Sacro Império Romano Germânico liderado pelo espanhol Carlos 5º e o inimigo Império Otomano do sultão Solimão, o Magnífico, engalfinhados em disputas militares nessa região.

    "Cem anos antes essas batalhas não eram possíveis. Não era viável reunir exércitos tão grandes, em navios dessa capacidade e com tamanha organização", explica.

    Outra das vantagens desse período histórico, segundo Crowley, é o surgimento da prensa e a subsequente produção de fontes escritas que, até então, seriam escassas. Sua obra –da qual dificilmente o leitor se afasta durante a leitura– se baseia, afinal, em arquivos de relatos.

    "Li todas as fontes que encontrei", diz o autor, cujo conhecimento da geografia da região lhe ajuda a descrever estratégias militares. "A chave para a escrita é encontrar os relatos de testemunhas."

    Ao longo de três anos de pesquisa, Crowley leu, por exemplo, textos de um historiador que havia ouvido os infortúnios de participantes do cerco de Malta pelos otomanos, em 1565. "São detalhes que trazem vida ao texto. Tento construir o restante da história de maneira balanceada."

    Impérios do Mar
    Roger Crowley
    livro
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    A construção, na obra de Crowley, tem como alvo um leitor comum, e não o especialista em história.

    Por isso, ele se diz surpreso por, apesar de sua falta de experiência acadêmica, não ter sido duramente criticado pela comunidade científica –que costuma torcer o nariz para as narrativas de escrita popular, como a sua obra.

    Por outro lado, Crowley teve problemas com o público. Seu trabalho, que discute uma guerra entre exércitos cristãos e muçulmanos, é por vezes visto não como uma disputa política, mas como um debate religioso. "Mas essa é uma história sobre impérios, e não sobre religiões", rebate.

    IMPÉRIOS DO MAR - A BATALHA FINAL ENTRE CRISTÃOS E MUÇULMANOS PELO CONTROLE DO MEDITERRÂNEO
    AUTOR Roger Crowley
    TRADUÇÃO Fátima Marques
    EDITORA Três Estrelas
    QUANTO R$ 59,90 (456 págs.)

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