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    Sai no Brasil biografia do editor que descobriu Fitzgerald e Hemingway

    FRANCISCO QUINTEIRO PIRES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

    03/12/2014 02h00

    À primeira vista, Max Perkins (1884-1947) era a negação do editor. Ele tinha uma pontuação defeituosa e uma péssima ortografia. Podia ser, nas suas próprias palavras, "lento como um bovino". Mas ele considerava a literatura assunto vital. "Não há nada tão importante quanto um livro", escreveu em uma carta.

    Descobridor de F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway e Thomas Wolfe nos anos 1920, Perkins tornou-se o editor mais respeitado e influente dos EUA no século passado, segundo A. Scott Berg, autor de "Max Perkins - Um Editor de Gênios", que sai agora no Brasil pela Intrínseca.

    Publicada em 1978 e vencedora do National Book Award, a biografia inspirou "Genius", filme sobre o editor americano em fase de produção. Colin Firth (no papel de Perkins), Guy Pearce (Fitzgerald), Dominic West (Hemingway) e Jude Law (Wolfe) integram o elenco do longa-metragem.

    Al Ravenna/Wikipedia
    O editor Max Perkins, biografado por Scott Berg, em foto sem data
    O editor Max Perkins, biografado por Scott Berg, em foto sem data

    "Perkins mudou a história da ficção americana ao criar a figura do editor criativo", disse Berg à Folha. "Antes, quem editava os textos realizava um trabalho mecânico, como a correção dos manuscritos."

    Funcionário da editora nova-iorquina Charles Scribner's Sons, Perkins estreou no cargo que o tornou lendário em 1914 e nele permaneceu nos 32 anos seguintes.

    "Ele se envolvia com a vida dos escritores, aos quais oferecia de ideias de enredo a sugestões de personagens", diz Berg, ganhador do Pulitzer em 1999 pela biografia do aviador Charles Lindbergh. "Nunca ninguém havia se comportado assim. Dali em diante, outros tentaram seguir o seu exemplo."

    Mesmo editores influentes, como Gordon Lish e Saxe Commins, não desenvolveram um vínculo com os ficcionistas tão estreito e duradouro quanto Perkins.

    "Além de emprestar-lhes dinheiro, ele atuou como terapeuta e conselheiro profissional", diz o biógrafo. Com frequência, liberou adiantamentos para F. Scott Fitzgerald, um gastador incorrigível.

    Perkins desafiou os hábitos da editora de Charles Scribner II, um ultraconservador, quando propôs a publicação de "Este Lado do Paraíso" (1920) e "O Sol Também se Levanta" (1926), romances pioneiros de Fitzgerald e Hemingway.

    Até então, a Scribner's conquistara prestígio por manter em catálogo as obras de escritores consagrados como Henry James e Edith Wharton.

    Segundo Berg, a preferência pela novidade não estaria entre os interesses das atuais editoras americanas, mais preocupadas em reproduzir padrões literários aceitos.

    "Elas não querem perder tempo e dinheiro com a descoberta de autores originais. Apostam nos que já vendem. Hoje, os agentes literários exercem a função dos editores."

    MAX PERKINS - UM EDITOR DE GÊNIOS
    AUTOR A. Scott Berg
    TRADUÇÃO Regina Lyra
    EDITORA Intrínseca
    QUANTO R$ 44,90 (544 págs.)

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