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    Jason Reitman fala sobre crescer conectado e os vazamentos de fotos

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    04/12/2014 02h07

    O diretor Jason Reitman pode ter compreendido o cinismo das grandes corporações em "Obrigado Por Fumar" (2005), a escolha de uma adolescente grávida em "Juno" (2007) e a vida de um homem encarregado de enxugar empresas em "Amor Sem Escalas" (2009). Escolhas extremamente diferentes, mas com um ponto em comum: a ausência de julgamento sob seus personagens.

    Repetir isso em seu novo filme "Homens, Mulheres e Filhos", adaptação da obra homônima escrita por Chad Kultgen que entra em cartaz no Brasil nesta quinta-feira (4), foi um pouco mais difícil para o cineasta.

    "Eu comprei os direitos do filme ainda do livro sair, mas não sabia o que fazer com aquele material", conta Reitman. "O livro não é sombrio, apenas honesto. E as pessoas estão desacostumadas a ler tramas nas quais o autor não julga ninguém e deixam seus personagens respirar."

    Divulgação
    Cena do filme 'Homens, Mulheres e Filhos', dirigido por Jason Reitman ("Juno")
    Cena do filme 'Homens, Mulheres e Filhos', dirigido por Jason Reitman ("Juno")

    Mas após encontrar a parceira com a roteirista Erin Cressida Wilson ("Secretária"), no Festival de Sundance do ano passado, o cineasta decidiu sair do romance oitentista "Refém da Paixão" para o emaranhado de histórias interligadas pela Internet do novo longa.

    "Me dei melhor crescendo nos anos 80 e 90. É difícil ser criança agora", brinca o canadense, filho do também diretor Ivan Reitman ("Os Caça-Fantasmas"). "Cada vez mais fica impossível nos atermos ao conceito de juventude e inocência. Acho que a Internet gera muita ansiedade por causa da pressão por auto-segurança, corpos bonitos ou sexualidade definida. São coisas que uma criança de 10 anos não deveria se preocupar."

    "Homens, Mulheres e Filhos" tenta compreender como diferentes pessoas de diferentes gerações estão sendo afetadas pela tecnologia –um tema bastante parecido com o pouco visto "Disconnect", lançado no Festival de Veneza, há dois anos. Adam Sandler é o pai de família que se surpreende com a vastidão do material sexual no computador do filho (Travis Tope), que, por sua vez, não consegue se excitar com o sexo normal (e real).

    Já o brilhante estudante Ansel Elgort ("A Culpa é das Estrelas") encontra a saída de uma crise emocional (sua mãe o abandonou com o pai e só recebe notícias dela com novos posts no Facebook) e existencial em um game online. Joan (Judy Greer) explora a imagem da filha sem compreender que a coloca em risco. Brandy (Kaitlyn Dever) é tão monitorada por uma mãe paranoica (Jennifer Garner) que cria uma persona paralela.

    "A maior parte das mudanças que fiz durante as filmagens veio de longas conversas com os atores mais jovens. Eles cresceram junto com a Internet e entendem como ela funciona no dia a dia", explica Reitman. "Eles me ajudaram a enxergar o que havia de errado no longa."

    Contudo, eles não tiveram a oportunidade de comentar com o diretor sobre o maior assunto envolvendo celebridades e internet em 2014: o roubo e vazamento de fotos e vídeos íntimos de atrizes como Jennifer Lawrence ("Jogos Vorazes") e Kaley Cuoco ("The Big Bang Theory").

    "É simplesmente errado invadir a privacidade de outra pessoa. É roubo", resume Jason Reitman. "Estamos caminhando na direção de achar normal algo tão constrangedor, mas não acho que alguém deveria olhar para as fotos. Você precisa imaginar sua mãe ou sua irmã no lugar delas. Tento não julgar ninguém, mas neste caso, não consigo."

    Talvez seja essa falta de julgamento que tenha prejudicado "Homens, Mulheres e Filhos" na bilheteria. O filme de US$ 16 milhões é um dos maiores fracassos do ano, rendendo apenas US$ 708 mil em toda a carreira, mesmo entrando em cartaz em mais de 600 salas nos Estados Unidos -"Homem-Pássaro", por exemplo, estreou só em quatro salas e rendeu, em um fim de semana, US$ 400 mil. "Nunca sabemos o que um projeto pode se tornar", desconversa o cineasta. "Acertando ou errando, o importante é continuar fazendo filmes antes que o cinema acabe."

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