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    'Um herói tem de ter demônios', diz escritor norueguês Jo Nesbo

    KARLA MONTEIRO
    DE SÃO PAULO

    05/12/2014 02h05

    Nesta segunda (8), Jo Nesbo estará no Teatro Eva Herz da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na av. Paulista, 2.073, às 19h. O escritor será sabatinado pela repórter da Ilustrada Karla Monteiro e pelo jornalista Rodolfo Lucena. A entrada –gratuita– será por ordem de chegada.

    Da Colômbia, onde lançava o "O Leopardo", o escritor Jo Nesbo falou por telefone à Folha.

    Jorn H Moen/Divulgação
    Jo Nesbo, que já foi jogador de futebol e astro do rock
    Jo Nesbo, que já foi jogador de futebol e astro do rock

    *

    Folha - Você era bom de bola?

    Jo Nesbo - Eu tinha bastante esperança como jogador. Mas, quando não pude mais jogar, fiquei perdido.

    E aí você resolveu virar um "rock star"?

    Primeiro, resolvi estudar. Fui fazer economia. Achava tudo aquilo chato, então comecei a escrever letras de músicas para uma banda.

    A Di Derre?

    A Di Derre veio depois. Montei a banda com o meu irmão e amigos. Eu não tocava nada. Tinha acabado de conseguir uma guitarra e me empurraram também para o microfone. Ninguém gostava da gente. A banda trocava o nome toda semana para que as pessoas achassem que era uma banda nova. Aí um cara de uma gravadora apareceu.

    O segundo álbum, "Jenter & Sann", foi o mais vendido da Noruega na década de 90...

    Eu trabalhava no mercado financeiro e não estava a fim de largar o emprego. Por alguma razão não queria pagar o aluguel com rock'n'roll. Em 1997, chegamos a fazer 180 shows. No final da turnê, fugi para a Austrália.

    Foi aí que começou a escrever livros?

    Antes de viajar, uma amiga editora me disse: por que você não escreve algo para a gente? Harry Hole nasceu no voo entre Oslo e Sydney.

    Em "O Leopardo", Harry Hole cita Bukowski, leu John Fante, é fã de Joy Division e Deep Purple. Ele é você?

    Essa é a vantagem de ser escritor. Você pode promover quem você gosta na cultura pop. E você pode dizer que "Coração Valente", com o Mel Gibson, que ganhou o Oscar em 1996, é o pior filme de todos os tempos.

    E qual é o melhor?

    "O Poderoso Chefão".

    Harry Hole é um voraz consumidor de drogas e álcool. Também é parte da sua experiência pessoal?

    Bom... Eu tocava numa banda de rock nos anos 90.

    Por isso a pergunta...

    Para criar um herói, você tem que muni-lo de conflitos. Ele tem de ter demônios. Numa banda de rock você convive com muita gente cujo demônio é o vício em drogas e álcool. Neste sentido, ele é parte da minha experiência.

    Você estudou psicologia, a mente de psicopatas?

    Eu me interesso por tudo que não entendo. E acho muito difícil entender a maldade humana. Tive um colega que gostava de cortar as asas dos insetos. Eu me perguntava: o que se passa na cabeça desse sujeito? Mas eu também ficava curioso para ver o que o inseto ia fazer sem asas. A semente da maldade existe em todo ser humano.

    Qual o seu próximo projeto?

    Estou escrevendo um livro em que os personagens saem de "Macbeth", a tragédia de Shakespeare.

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