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    Ferreira Gullar toma posse na ABL

    DO RIO

    05/12/2014 22h45

    Numa cerimônia concorrida, o poeta e colunista da Folha Ferreira Gullar, 84, assumiu nesta sexta (5) a cadeira nº 37 da ABL (Academia Brasileira de Letras), sucedendo ao poeta e tradutor Ivan Junqueira (1934-2014).

    Em seu discurso, de linguagem simples e pontuado por anedotas, Gullar falou sobre o caminho que o levou à Academia e homenageou seus antecessores.

    Entre os convidados estavam a atriz Fernanda Montenegro e o cartunista Ziraldo.

    O evento aconteceu no salão nobre do Petit Trianon, a sede da Academia, no centro do Rio.

    Vestindo o fardão de acadêmico, Gullar abriu seu discurso agradecendo aos amigos acadêmicos que tanto insistiram para que ele se candidatasse a uma vaga na casa, como José Sarney, Eduardo Portella, Ana Maria Machado, Cicero Sandroni e Antonio Carlos Secchin. "Aproveito para pedir desculpas por tanto ter me esquivado à sua paciente generosidade", declarou.

    Desde sua candidatura, Gullar vem sendo alvo de críticas por inconsistência. Ele, que é conhecido por sua postura transgressora, estaria traindo seu passado ao participar de uma instituição que representa a tradição e o 'establishment'.

    Ricardo Borges/Folhapress
    O poeta Ferreira Gullar durante a posse na Academia Brasileira de Letras, no Rio
    O poeta Ferreira Gullar durante a cerimônia de posse na Academia Brasileira de Letras, no Rio

    Gullar referiu-se à guinada como coerente com suas escolhas na vida, sempre surpreendentes.

    "Como minha vida tem se caracterizado não pelo previsível, mas pelo inesperado, ao decidir-me pela candidatura à que nunca aspirei, agi como sempre agi, ou seja, optar pelo imprevisível. Estou feliz da vida, uma vez que, aos 84 anos de idade, começo uma nova aventura pelo inesperado que a algum lugar desconhecida há de levar-me. Pode alguém se espantar ao me ouvir dizer que posso encontrar o novo nesta casa que é o reduto próprio da tradição. E pode ser que esteja certo. Não obstante, como na vida, em qualquer lugar, em qualquer momento, o inesperado pode acontecer".

    Seguindo a tradição, homenageou os ocupantes da cadeira 37: Alcântara Machado, Getúlio Vargas, Assis Chateaubriand, João Cabral de Melo Neto e, finalmente, seu antecessor e amigo, Ivan Junqueira.

    "Posso garantir-lhes que foi um grande homem de letras. Na literatura, encontrou seu verdadeiro universo", disse o poeta.

    Homenageou também o patrono de sua cadeira, Tomaz Antonio Gonzaga. "Não diria que foi um grande poeta, mas tampouco enveredou pela falsa retórica e falsos sentimentos", disse Gullar.

    Ao final de sua fala, foram cumpridos os rituais que formalizam a posse. José Sarney entregou a ele a espada, Eduardo Portella fez a aposição do colar e Ana Maria Machado lhe entregou o diploma.

    Gullar foi recebido pelo acadêmico Antonio Carlos Secchin, que liderou a campanha por sua eleição. Secchin fez um discurso sobre a obra do poeta. O crítico literário é organizador do livro "Ferreira Gullar: Poesia Completa, Teatro e Prosa".

    "Em nossa poesia Gullar é que mais se destaca numa linhagem que erotiza o corpo do mundo Infiltra-se nessa poesia uma nota de que o homem é condenado à sua arbitrária individualidade", declarou o crítico.

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